05/09/2023 às 07h56min - Atualizada em 05/09/2023 às 07h56min

Conheça a história da jovem migrante que aos 16 anos deixou a Venezuela para estudar música em Salvador.

Aos 16, atravessou por terra a fronteira de seu país, chegando em Boa Vista, capital de Roraima, de onde cruzou o Brasil de Norte a Sul.

- *Por Mari Leal, do Jornal Correio. Fotos: Ana Albuquerque/CORREIO.
Venezulana residente em Salvador, a violinista Franca Marcano Ledezma, de 22 anos, aprendeu muito cedo sobre determinação e solidariedade. Aos 16, atravessou por terra a fronteira de seu país, chegando em Boa Vista, capital de Roraima, de onde cruzou o Brasil de Norte a Sul. Desejava dar continuidade aos estudos de música e precisava deixar para trás um país mergulhado em crise. Carregaria, infelizmente, o peso de viver afastada da família.

Cinco anos após a primeira grande mudança, Franca se prepara para mais uma. Foi aprovada na criteriosa seleção da Hochschule für Musik Saar, um conservatório de música localizado em Saarbrücken, na Alemanha. Para efetivar a mudança, no entanto, precisa superar a barreira financeira. Por isso, lançou uma campanha on-line que tem como meta arrecadar R$ 60 mil.

Franca iniciou os estudos aos sete anos, no Conservatório de Música Carabobo, em Valencia, sua cidade natal, junto com seus irmãos, no Sistema Nacional de Coros e Orquestras Juvenis e Infantis. Também estudou na Academia americana de Violino em Caracas, capital venezuelana. Mas, em 2017, o estopim da crise político-social e econômica coincidiu com a conclusão do seu ensino médio.

 
“Comecei a procurar oportunidades de fazer um ensino superior, continuar minha carreira na música, que sempre foi o meu sonho. Eu tinha 16 anos, entrei em contato [por e-mail] com muitos professores e um desses foi Emmanuele Baldini, violinista italiano que mora aqui no Brasil. Ele me mostrou algumas possibilidades, entre elas um festival no Sul do Brasil e o Neojiba”, relembra.

Aprovada nas duas opções, começou a viajar sozinha em janeiro de 2018, depois de chegar ao Brasil com o pai, de ônibus. Por conta do Festival Internacional SESC de Música, permaneceu duas semanas em Pelotas (RS). Em Salvador, a previsão inicial de permanência era de dois anos, conforme o edital do Neojiba - Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia.

“Fui aprovada nas duas e falei para meus pais, que até então não sabiam de nada. Eu não tinha nada. Não tinha passaporte, não tinha dinheiro. O que minha família recebia trabalhando era para comprar comida, que era muito difícil. Eu não tinha como pedir para eles bancarem uma viagem internacional. Comecei a buscar patrocínio, que é o mesmo que estou fazendo agora.”

O visto 
Franca realizou as provas para a admissão na escola alemã presencialmente, em junho deste ano. Para ter a liberação do visto de estudante, no entanto, ela precisa ter em uma conta o montante de € 11,2 mil (R$ 59.239,04), valor que já conseguiu por meio de empréstimo, mas que deverá ser devolvido após os dois anos de estudos.

O desafio imediato da violinista é conseguir custear as etapas preparatórias para a viagem, que incluem a retirada de documentos no Recife, já que a Bahia não possui sede do Consulado-Geral alemão, passagens, assim como as despesas de moradia e alimentação nos primeiros meses no novo país e os custos semestrais do conservatório, de € 300 (R$ 1.586,76 ) a cada período. A previsão é de que as aulas sejam iniciadas em outubro próximo.

“Desde a primeira vez que eu visitei a Europa, em 2018, em uma turnê internacional do Neojiba, eu tive a vontade muito forte de ter a oportunidade de estudar lá. Na verdade, esse era meu sonho desde que eu entrei na música. Acho que por isso, assim que soube que eu fui aceita depois de fazer as provas na Alemanha, eu falei que iria lutar muito para conseguir de novo”, revela Franca.

As doações à Franca podem ser feitas on-line, através endereço vakinha.com.br/vaquinha/franca-na-alemanha; da chave Pix [email protected] ou pela conta Nubank Ag. 0001, conta corrente 30924352-4.

Comprometimento
Francaaloalo

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Franca entrou na Orquestra Juvenil da Bahia em 2018 e, logo no primeiro ano, foi selecionada para chefiar o naipe dos violinos na primeira turnê internacional da qual participou. Também deixou sua marca na parte de monitoria da orquestra, chegando a receber o prêmio de Monitora Destaque em 2021 como reconhecimento de sua liderança musical e na multiplicação de aprendizados. Ano passado ela participou de mais uma turnê internacional.

“Sempre se mostrou muito organizada, compromissada, atenta e disciplinada, além de ter um talento enorme. Conseguiu conciliar muito bem o Neojiba com o ensino universitário. Nós só temos coisas boas a falar. Ela merece todo o apoio possível para continuar os estudos”, destaca Eduardo Torres, diretor musical do Neojiba.

Em 2021, Franca também venceu a primeira edição do concurso Mozarteum Cadenza, promovido pela Mozarteum Brasileiro, uma das mais conceituadas associações culturais do Brasil.

Encontros
Da Venezuela para o Brasil, Franca viajou na companhia do pai durante dois dias em um percurso feito de ônibus. Depois, embarcou sozinha em um voo com destino ao Rio Grande do Sul. Ela, que seguia concentrada em sua participação no festival, não imaginava que uma conexão a colocaria de frente àqueles que a acolheriam no retorno para Salvador. E foi bem isso o que aconteceu, “uma coincidência super louca”, como ela própria define entre risos.

“Meu voo fez uma conexão em Brasília. Eu lembro que eu estava perdida, não falava português, nunca tinha saído da Venezuela. Acabei falando com duas pessoas que também estavam indo para o Rio Grande do Sul. A gente ficou tentando se entender”. As pessoas com quem Franca conversou no aeroporto são o casal Cláudia e Luiz Blanc.

Semanas depois, quando chegou a Salvador para assumir os trabalhos no Neojiba, a musicista voltou a fazer contato com o casal. Franca morou na residência de Cláudia e Luiz, no bairro da Pituba, de 2018 até 2022. “Eu chamo eles de meus pais brasileiros, pais de coração”, diz Franca.

“O que aconteceu foi uma coisa bem mágica. A gente estava indo para Gramado. Encontramos com ela no saguão. Sentamos perto e começamos a conversar. Depois eu comentei com minha esposa ‘como uma menina dessa sozinha vai vir para Salvador?’. Quando retornamos, ela fez contato, convidamos para um almoço de domingo, mas já tínhamos pensado que, se ela desejasse, poderia ficar aqui em casa conosco. Ela estava em uma situação precária, morando provisoriamente com alguns jovens. Foi uma confiança mútua. Ela confiou. A família também confiou”, diz Luiz ao falar da experiência do casal.

“Foi uma coisa muito espontânea. É uma menina muito focada, tinha o objetivo dela muito claro. A gente sugeriu que ela fizesse o Enem. Ela passou na Ufba. Ela tem muito mérito. Ela provoca, ela vai atrás da alternativa”, continua.

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