23/10/2023 às 08h06min - Atualizada em 23/10/2023 às 08h06min

'Dama de ferro da oposição', María Corina Machado vence as primárias da oposição na Venezuela.

Candidata da ala mais radical da oposição era favorita nas pesquisas, mas não pode exercer cargos públicos por 15 anos, apesar de acordo assinado na semana passada.

- Com agências internacionais.
candidata María Corina Machado, da ala mais radical da oposição venezuelana, venceu por ampla margem as primárias da oposição celebradas no domingo, que definiu o rival do presidente Nicolás Maduro nas eleições de 2024. Ela, no entanto, está inabilitada para exercer cargos públicos por 15 anos — o que em tese a impediria de registrar sua candidatura.

Um primeiro boletim da comissão que organizou as eleições internas informou que María Corina venceu com ampla margem, e recebeu 552.430 dos 601.110 votos contabilizados até agora, com 26% das urnas apuradas. Seu rival mais próximo, Carlos Prosperi, que denunciou irregularidades no processo, recebeu 28.153 votos e os demais aspirantes uma votação inferior a 5 mil votos.

— Este não é o final, mas este é, sim, o início do fim — declarou María Corina a simpatizantes na sede de sua campanha.

Na semana passada, o regime de Nicolás Maduro e a oposição fecharam um acordo histórico, que estabeleceu para o segundo semestre do ano que vem a realização de eleições presidenciais, com observação internacional. O acordo parcial, assinado durante as negociações em Barbados, também contempla um pedido importante da oposição: a atualização do registro eleitoral dos eleitores, inclusive os mais de 6 milhões que vivem fora do país. Mas os avanços, embora celebrados, deixaram em aberto um ponto crucial: a participação de políticos declarados inelegíveis, como María Corina Machado.

No total, 21 milhões de venezuelanos registrados puderam votar nas primárias de domingo — inclusive em 28 países. Além da candidata, os eleitores tinham que escolher entre outros nove candidatos, depois que Henrique Capriles, segundo nas pesquisas, deixou a disputa poucos dias antes das primárias.

O pleito foi organizado pela própria oposição, que descartou a assistência técnica do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) após meses de evasivas por parte da instituição, que finalmente propôs no último minuto um adiamento de um mês para administrar as primárias. O atraso do CNE em dar uma definição provocou grandes problemas logísticos, da instalação de centros de votação — em praças, parques, escolas e até casas particulares —, até o credenciamento dos integrantes das mesas e das testemunhas.

Ao contrário do sistema eletrônico das eleições nacionais, a votação foi manual e alguns locais ficaram sem cédulas, uma vez que a participação dos eleitores superou as estimativas. Apesar do resultado, no entanto, a oposição está cada vez mais dividida, em particular após a experiência fracassada de governo paralelo de Juan Guaidó, que chegou a ser reconhecido por mais de 50 países, incluindo o Brasil, mas acabou deslegitimado interna e externamente após o fracasso da tentativa de tirar Maduro do poder a qualquer custo.

María Corina enfrenta grandes resistências internas, e critica com veemência a oposição tradicional e o seu partido, Vente Venezuela, não integra, por exemplo, a coalizão Plataforma Unitária, que negocia com o chavismo na mesa de diálogo. Nos últimos anos, se opôs tanto ao autoproclamado governo interino de Guaidó, quanto ao setor moderado da oposição, liderado por Capriles, que defendia a estratégia de retomar a via eleitoral para derrotar o governo nas urnas.

— Um candidato é escolhido, a liderança da oposição é outra coisa — destacou, evasivo, o presidente da Plataforma Unitaria, Omar Barboza, após os resultados.
No X, antigo Twitter, Capriles reforçou seu apoio à unidade:

"Parabenizo a candidata vencedora María Corina Machado pela sua vitória inquestionável nesta eleição. Este processo reforça a importância da unidade na nossa luta pela democracia. Hoje demos um passo significativo na consolidação de uma frente unida que nos permitirá derrotar Maduro e o pior governo da história do país em 2024", escreveu.

Hoje com 55 anos, María Corina ficou conhecida por liderar a oposição mais linha-dura contra o então presidente Hugo Chávez, mas seu nome se diluiu nos anos seguintes entre outros opositores. Engenheira industrial de formação, María Corina se destacou durante seu mandato, entre 2011 e 2014, como uma deputada combativa — e principalmente por suas críticas ferozes, tanto ao regime quanto à oposição.

Uma das principais articuladoras das manifestações contra o governo de Maduro, em fevereiro de 2014, teve seu mandato cassado no mês seguinte pela Assembleia Nacional da Venezuela, comandada na época pelo chavista Diosdado Cabello, número dois do regime. Depois, em 2015, foi inabilitada politicamente e proibida de deixar o país.

A punição, inicialmente de 12 meses e que terminou em 2016, foi prorrogada para 15 anos em junho deste ano, justamente quando sua campanha começou a crescer. A Controladoria, comandada pelo agora presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Elvis Amoroso, acusou a ex-deputada de corrupção e de promover sanções contra o país.
 
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