06/12/2023 às 06h28min - Atualizada em 06/12/2023 às 06h28min

Para invadir a Guiana por terra, Venezuela teria que passar por Roraima: entenda

- Fonte: O Globo
Rio Essequibo, zona de disputa há décadas entre Guiana e Venezuela — Foto: Wikimedia Commons
O presidente da VenezuelaNicolás Maduro, tem repetido há dias que seu governo irá recuperar o Essequibo, uma região em disputa que representa mais de 70% do território da vizinha Guiana. Para invadi-lo por terra, no entanto, Caracas teria que necessariamente passar pelo território brasileiro (em Roraima), o que embora seja possível, não parece provável no contexto atual.

O coronel da reserva Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, mestre em Ciências Militares, explica que a fronteira entre Venezuela e Guiana é predominantemente formada por selva, o que impede o deslocamento de colunas de viaturas blindadas e dificulta o deslocamento de tropas a pé, assim como o envio dos suprimentos necessários à manutenção das tropas em combate. Por outro lado, na fronteira com Roraima, a vegetação de campos gerais é adequada ao movimento das tropas.

— Uma eventual ação militar venezuelana, muito provavelmente seria planejada projetando-se poder do mar sobre a terra, em uma operação anfíbia, no qual a Venezuela desembarcaria tropas em algum ponto do litoral guianense — acrescentou Gomes Filho.

Um confronto armado hipotético entre a Venezuela e a Guiana colocaria frente a frente forças militares "bastante assimétricas", destaca o professor de geopolítica da Escola Superior de Guerra, Ronaldo Carmona. Enquanto as forças venezuelanas estão entre as mais bem equipadas da América do Sul, as guianesas têm um pequeno efetivo, diz o especialista.

— Uma manobra como essa evidentemente não seria permitida pelo Brasil, porque um conflito em plena Panamazônia sul-americana tem potencial de abrir uma quarta frente de confronto geoestratégico no mundo, depois do Mar do Sul da China, Ucrânia e Israel, o que é extremamente grave do ponto de vista do interesse brasileiro e sul-americano — afirmou Carmona. — Outra possibilidade seria uma ação aeronaval, mas que representaria maiores riscos operacionais para a Venezuela.

A Venezuela é o 6º país que mais investe na área militar no mundo, enquanto a Guiana está apenas na 152ª posição, segundo o The World Factbook, da CIA, a Agência de Inteligência Central americana.

— Se considerarmos um confronto direto, a superioridade militar venezuelana é bastante desproporcional — diz o professor. Para Maurício Santoro, cientista político, professor de Relações Internacionais e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha, uma ação militar venezuelana na Guiana é possível, mas improvável.

— Um ataque desse tipo à Guiana colocaria a Venezuela sob fortes sanções internacionais, em um momento no qual Maduro busca recuperar legitimidade global, sobretudo por meio das negociações com a oposição para realizar eleições livres e limpas em 2024 — diz Santoro. — As motivações de Maduro em reacender o conflito pelo Essequibo são mais no sentido de mobilizar a opinião pública em torno de uma causa patriótica de grande apelo nacional, tanto para partidários do governo quanto da oposição. Ele quer ser visto como o líder que defende o país, em uma eleição acirrada, e com sua popularidade em baixa.
 
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