Desde a semana passada, o governo de Roraima declarou estado de calamidade pública e emergência ambiental por causa do focos de fogo que se alastraram pelo estado. O fogo queimou pastos e roças e a fumaça impregnada no ar causa incômodos na população.
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De acordo com dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Roraima é o estado brasileiro com mais focos de fogo em fevereiro, considerando a quantidade de focos até o dia 27.
Roraima também é o estado que tem mais focos de fogo desde o início de 2024.
Até o dia 27 de fevereiro, os 10 municípios com maior quantidade de focos de fogo no país eram do estado de Roraima.
Para complicar a situação em Roraima, a Venezuela, país de fronteira com o estado, é o país da América do Sul com maior quantidade de focos de fogo desde o início de 2024. No dia 27 de fevereiro, o Programa Queimadas do INPE contabilizava quase 18 mil focos, considerando apenas os dados do satélite de monitoramento AQUA/NASA.
Esta situação já era de se esperar, já que o verão é época de pouca chuva em Roraima, único estado do Norte do Brasil que não obedece o regime de chuva de verão.
Em Caracaraí, por exemplo, segundo município com maior quantidade de focos de fogo no Brasil em fevereiro de 2024, historicamente o volume médio de chuva mensal cai para menos de 150 mm em setembro e para menos de 100 mm de outubro a março. A média de chuva normal em fevereiro fica em torno de 48 mm, a menor do ano. O período de chuva vai de abril a agosto, com pico em maio e em junho, quando as médias Climatológicas de chuva sobem para valores entre 340 e 365 mm.
A falta de chuva vem sendo sentida desde agosto. Em Caracaraí,em quase todos os meses de agosto de 2023 a fevereiro de 2024 choveu menos da metade da média mensal normal. Com pouca umidade no solo e o calor acima do normal que vem sendo observado desde a primavera de 2023 deixaram o solo e a vegetação em situação de alta vulnerabilidade para o alastramento de focos de fogo.
Outro fator que contribuiu para o alastramento dos focos de fogo foi a prática agrícola comum de queimar a vegetação seca para limpeza do terreno que será usado para novos plantios. Em uma situação de calor intenso e chuva tão escassa, é também comum que estas queimadas saiam de controle e se alastrem rapidamente pela vegetação e o solo com pouca umidade armazenada.
Março ainda é um mês normalmente de pouca chuva em Roraima e a chuva vai continuar escassa no próximo mês. Mesmo enfraquecendo, o fenômeno El Niño ainda ainda terá influência no clima e vai acentuar a característica de seca. A previsão da Climatempo é de que março de 2024 seja mais um mês com chuva abaixo do normal e calor acima da média em Roraima.
O período normal de seca em Roraima vem sendo agravado pelo forte El Niño que se desenvolveu desde o inverno de 2023 e atingiu o pico entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024. Um dos efeitos clássicos do El Niño no Brasil é o de deixar o extremo norte do Brasil mais quente do que o normal e reduzir a frequência e intensidade da chuva. No caso de Roraima, o El Niño reforçou o período normal de seca.
Os dados do INPE mostram que Roraima fevereiro de 2024 está sendo pior em número de focos de queimadas do que fevereiro de 2016, quando ocorreu o El Niño mais intenso já observado. No período de 1 a 27 de fevereiro de 2016, Roraima teve 2140 focos e este ano está com 2605 neste período.
A situação deste ano nem pode ser comparada com os verões recentes porque os verões de 2020/2021, 2021/2022 e 2022/2023 foram com chuva dentro ou acima da média, influenciados pelo fenômeno La Niña. O La Niña atua de forma oposta ao El Niño e aumenta a chuva na região de Roraima.
Fonte: Clima Tempo