Antena da Starlink instalada em uma área de garimpop de ouro ilegal em Roraima. Foto: Colaboração / Agentes do Ibama
Com mais de cinco mil satélites ao redor da Terra, a empresa de Elon Musk que fornece serviços de internet baseados no espaço para 2,6 milhões de pessoas no mundo acabou ajudado garimpeiros na Amazônia em suas operações.
Desde o ano passado, a Polícia Federal e o Ibama vêm apreendendo diversas antenas usadas em acampamentos do crime. Em janeiro deste ano, em entrevista ao GLOBO, o coordenador de operações de fiscalização do Ibama, Hugo Loss, citou que ela proporciona uma vantagem aos garimpeiros pelo acesso à internet obtido por meio das antenas.
— Essa internet a gente não tem, é uma vantagem muito grande para eles. A gente chegou a ver uma antena instalada na asa do avião, para o piloto se comunicar — disse. — Precisamos cancelar esses sinais das antenas e melhorar o controle aéreo.
Segundo dados da Agência Nacional de Telefonia (Anatel), a Starlink já é a segunda maior provedora de internet via satélite no país, com 150 mil clientes em um universo de 400 mil. Essa marca, inclusive, foi atingida após um crescimento meteórico: em fevereiro de 2023, esse número era sete vezes menor.
No mesmo período, a americana Hughes — líder de mercado em número total de clientes — perdeu quase 18 mil assinantes, enquanto outros concorrentes de menor peso se mantiveram relativamente estáveis de acordo com os dados compilados pela Anatel. Já o mercado como um todo ganhou 69 mil acessos.
Já na Amazônia Legal (formada por Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão), a Starlink domina o mercado, de acordo com um levantamento da BBC Brasil, de outubro do ano passado. Até junho desse ano, a empresa já tinha antenas instaladas em 90% dos municípios da região. A maioria destes clientes está em regiões de difícil acesso na Amazônia, onde não há infraestrutura tradicional de internet de banda larga.
Durante a maior parte de 2023, a mensalidade do serviço de internet teve 20% de desconto: de R$ 230 para R$ 184. Os valores não incluem frete para envio dos equipamentos, além de outras taxas e impostos. Já o valor do kit para instalação (antena, roteador e cabos) para clientes residenciais custa R$ 2 mil — e também já passou por promoções, sendo vendido pela metade do preço.
O serviço também pode ser utilizado em trânsito. A qualidade do serviço é assegurada pela Starlink por ter como base uma constelação global de satélites.
Entrada no mercado brasileiro Em novembro de 2021, Elon Musk se encontrou com o então ministro das Comunicações, Fábio Faria, do governo de Jair Bolsonaro, e apresentou os planos para conectar as escolas rurais com banda larga e também de sistemas de monitoramento da Amazônia. A companhia prometia oferecer internet de alta velocidade a regiões onde a fibra óptica, mesmo com o advento do 5G no mundo, não deve ser alcançada pelo custo de infraestrutura.
Em janeiro de 2022, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) deu aval para a Starlink operar satélites de órbita baixa no Brasil. Musk esteve no Brasil para apresentar a empresa a Bolsonaro. Na época, o bilionário afirmou que o projeto levaria internet a 19 mil escolas desconectadas da web.
"Super animado por estar no Brasil para o lançamento do Starlink para 19.000 escolas desconectadas em áreas rurais e monitoramento ambiental da Amazônia!", escreveu ele, no Twitter.
No entanto, o governador do Amazonas, Wilson Lima, se queixou dos investimentos do bilionário Elon Musk na Amazônia Legal. Num desabafo em junho do ano passado, durante reunião com outros governadores do Norte do país, o político do União Brasil afirmou que os aportes do dono da Starlink, da Tesla e do Twitter não estão alinhadas a políticas públicas e, com isso, acabaram por favorecer o acesso à web de criminosos da região.
A informação é da "Folha de S. Paulo". De acordo com o governador amazonense, apenas três escolas públicas do estado tinham recebido gratuitamente, até aquele momento, as antenas que são comercializadas por representantes da companhia de Musk e que dão o acesso à internet.
— A internet que ele começou a colocar na Amazônia nunca esteve conectada às políticas públicas. Resultado: traficante, grileiro e criminosos têm a antena do Elon Musk, mas a comunidade mais simples, lá do interior, não tem acesso — afirmou Wilson Lima durante a reunião, em Cuiabá, na última sexta-feira.