Indígenas criticam comissão bolsonarista para averiguar situação dos yanomamis em Roraima
21/05/2024 08h40 - Atualizado em 21/05/2024 às 08h40
O movimento indígena criticou a comissão externa criada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), composta por deputados bolsonaristas e que tem como objetivo investigar a crise humanitária do povo Yanomami em Roraima.
Em uma carta publicada nesta segunda-feira (20), as quatro associações que atuam naquela região — Hutukara Associação Yanomami (HAY), Urihi Associação Yanomami (URIHI), Associação Parawami Yanomami (Parawami) e Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume)— afirmaram que a comissão pretende usar o sofrimento dos yanomamis para fins políticos.
O documento, assinado por um total de 78 organizações (dentre indígenas e não-indígenas) pede o fortalecimento das políticas de proteção aos povos e cita a tragédia do Sul como exemplo das consequências do enfraquecimento da legislação ambiental. "Manifestamos nosso repúdio e indignação por mais uma ação truculenta da Câmara dos Deputados que, longe de manifestar preocupação e compromisso com nosso povo, pretende utilizar a dor e a morte do povo Yanomami e Ye’kwana para objetivos simulados de disputas políticas e de defesa do garimpo e da mineração em territórios indígenas", diz o texto.
Vice-presidente da associação Hutukara, Dário Kopenawa lembra que, para entrar na Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima, é necessária autorização dos povos que lá vivem —e que os deputados não serão bem-vindos.
"Esses parlamentares são contra os povos indígenas do Brasil. Eles nunca deram nenhum apoio para as populações indígenas da terra Yanomami. Queremos respeito às lideranças tradicionais e as associações. Como Yanomami, não vimos nenhum desses deputados defendendo os povos indígenas, eles são contra os nossos direitos, são a favor do marco temporal", afirma.
A comissão criada por Lira é composta apenas por deputados bolsonaristas. A coordenação é de Coronel Fernanda (PL-MT) e também estão no grupo o deutado Nicoletti (União Brasil-RR), defensor do garimpo em Terra Indígena, e Silvia Waiapi (PL-AP), indígena e que foi secretária de saúde indígena do governo de Jair Bolsonaro (PL).
A principal causa da crise humanitária do povo Yanomami é o garimpo ilegal dentro do território, que explodiu justamente durante a gestão bolsonarista.
A atividade causa a destruição da floresta e dos rios, o que prejudica a fauna e a flora da região e, portanto, a alimentação e a maneira de viver dos indígenas.
A extração ilegal também utiliza mercúrio, metal pesado que polui os rios, é ingerido pelos peixes, que depois servem de comida para os moradores das comunidades, e causa de doenças graves, inclusive cerebrais.
A presença de homens brancos ilegalmente dentro do território também espalha a malária, que causa centenas de mortes indígenas todos os anos.
Todos esses fatores criaram uma situação de grave crise humanitária entre os yanomami, que sofrem sobretudo com a desnutrição e a malária.
Fonte: Blog |Brasília Hoje (Folha de S. Paulo)