15/06/2024 às 06h43min - Atualizada em 15/06/2024 às 06h43min

Índios de Roraima repudiam debate na Câmara dos Deputados sobre reversão da demarcação de Raposa serra do Sol

A reserva Raposa Serra do Sol foi demarcada onde antes existiam grandes plantações de arroz.
As comunidades da terra indígena Raposa Serra do Sol e o Conselho Indígena de Roraima (CIR), reagiram à aprovação do requerimento do deputado federal Evair de Melo, do Espírito Santo, aprovado na Comissão de Agricultura da Câmara Federal, nesta quarta-feira (12). O requerimento solicita a realização de audiência pública para discutir a reversão da terra indígena Raposa Serra do Sol focando a volta da produção de arroz no território. Uma das justificativas é a escassez de arroz no Brasil, em decorrência da enchente no Rio Grande do Sul, nos últimos meses.

Na avaliação do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e das lideranças indígenas da Raposa Serra do Sol, essa proposta representa a volta da invasão no território, que já é demarcado, homologado e reafirmado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e que, portanto, não há nenhuma possibilidade de reversão ou volta da produção de arroz, principalmente nas áreas que foram totalmente destruídas.

Ao tomar conhecimento do debate que circula na Câmara Federal, o Vice tuxaua geral do CIR, Enock Taurepang, deixa claro para as instituições, parlamentares, seja de nível estadual, municipal ou federal, que as terras indígenas que foram demarcadas, quando relembra a luta pelo território e que ainda acontece pela demarcação e ampliação de algumas, são com o pensamento de ter o território para poder trabalhar e preservar o meio ambiente.


“Não é um pensamento de fazer grandes plantações, destruição da natureza, é a nossa própria vida. Esse pensamento retrógado desses parlamentares do Espírito Santo é uma visão de como ainda o Brasil tem esse pensamento colonizador, um pensamento que é incapaz de pensar em um progresso de um desenvolvimento conjunto. Então fica ainda mais difícil quando tem parlamentares ainda com essa mentalidade de uma década no tempo que ainda o Brasil foi invadido. Com pensamento que eles descobriram e acham que tem a solução para tudo. E não é assim, a gente vive em País democrático, onde as comunidades indígenas precisam ser ouvidas, respeitadas da forma que querem viver. As instituições o próprio movimento indígena não está parado, a gente tem criado estratégias e mecanismos de como apoiar de fato as nossas iniciativas de produção”,
destacou Enock.




Direto da terra indígena Raposa Serra do Sol, o coordenador do território, que abrange quatro regiões, Surumu, Baixo Cotingo, Raposa e Serras, Arizona Menandro, também ressaltam que os povos indígenas têm ocupado todo território da Raposa Serra do Sol, com suas plantações tradicionais. A maior parte da terra indígena Raposa Serra do Sol, é ocupado com a pecuária sustentável, é uma das maiores produtoras de bovinocultura do Estado, mas infelizmente o estado não reconhece.

“O território é um grande reprodutor, um grande berço de reprodutor. Hoje, aproximadamente possui 40 mil reis de gado no nosso território. As comunidades indígenas aumentaram, a população teve um aumentou, o território foi todo ocupado. Os arrozeiros deixaram degradados, deixaram o nosso território devastado, e houve a defasagem dos animais silvestres. E hoje o povo indígena está tentando ainda recuperar o nosso território, usando pra bovinocultura, fazendo reflorestamento. A Raposa Serra do Sol tem também as nossas produções orgânicas. Aqui não tem uma família que passa necessidade. O nosso território para a nossa floresta, rios, Lagos é tudo para nós. Estamos protegendo o nosso território. Não aceitamos de forma algum discutir o retorno desses invasores no nosso território”.    

Em contraponto aos argumentos de que a terra indígena Raposa Serra do Sol está improdutiva, a realidade mostra outro cenário, onde o avanço na pecuária, produção agrícola, piscicultura, e outras produções sustentáveis, são realidades sem invasores e produções que só destroem o meio ambiente, como era antes com a presença de fazendeiros e arrozeiros.

Como alternativa de apoio às comunidades, o CIR e suas bases, consolidam o Fundo Indígena Rutî, destinado a apoiar atividades produtivas familiares, comunitárias e regionais. O fundo busca fortalecer as iniciativas que já existem nas comunidades.

Coordenando a iniciativa, Enock Taurepang, ressalta ainda que a organização está na implementação do Funfo Ruti. É um fundo que vem trabalhar junto as comunidades para apoiar as iniciativas a nível de regional, comunitário e familiar. “Vamos começar apoiar essas iniciativas de produção, justamente para sair dessa prisão e dessa armadilha que o governo usa para as comunidades indígenas, para cooptar lideranças e famílias. Exemplo, eu dou algumas coisas para você, e em troca eu quero você para sempre aos meus pês, para sempre me ajudando chegar ao poder de governo de vereador, deputado federal e de senador”.

Refletiu sobre a relação dos órgãos governamentais com os povos indígenas. “Não é que não quereremos ajudar na economia do estado brasileiro, queremos sim ajudar, e nós temos potencial para isso, mas do nosso jeito. Que os governantes sejam capazes de vim conversar com a gente, e não vim com modelo montado, de que tudo que a gente fala e quer, não cabe no modelo do governo. Por isso sempre vai existir esse embate, essa diferença entre nós, porque, infelizmente o governo só gosta de ser ouvido e não gosta de escutar. E para os parlamentares, se a vida realmente vale, que eles reflitam o que aconteceu no Rio Grande do Sul, e depois que refletirem, se forem ainda capazes de sentirem a dor do outro, aí sim eles podem vir falar com a gente, podem vir de fato construir um projeto que venham fazer umas vivências que o território possa, conceder o bem viver a todos que ali vivem da melhor forma possível”, finalizou o tuxaua

A tentativa de reversão da terra indígena Raposa Serra do Sol, não é uma novidade. Desde a homologação, há mais de 19 anos, o território e os povos vêm sofrendo com ataques, principalmente da bancada ruralista, bolsonarista e seus grupos de interesses, que novamente atacam no Congresso Nacional. A TI Raposa Serra do Sol possui uma população de 27 mil indígenas, com cinco diferentes povos, Macuxi, Wapichana, Taurepang, Patamona e Ingarikó.

 

Fonte: CIR
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