29/07/2024 às 06h31min - Atualizada em 29/07/2024 às 06h31min
Eleições na Venezuela: controlada por Maduro, Justiça eleitoral diz que ditador foi reeleito
Sob acusação de atrasar a divulgação dos resultados para mascarar uma derrota, chavismo divulga resultado sem auditoria; oposição contesta e declara vitória de Edmundo González Urrutia
A votação ainda não foi certificada por observadores do Centro Carter, nem da ONU, e as horas que se seguiram ao fechamento das urnas foram acompanhadas por pressão diplomática de países sul-americanos e europeus, além dos Estados Unidos para que os resultados sejam auditados.
O pleito, contudo, foi marcado por constantes mudanças de regras e movimentações fraudulentas por parte do chavismo nas semanas que antecederam. Também houve problema durante o processo de totalização e apuração dos votos, quando a oposição acusou o CNE de paralisar a transmissão dos resultados. A oposição denunciou não ter tido acesso a 70% das atas eleitorais que poderiam comprovar os resultados e acusou Maduro de fraudar a votação.
Com 80% das urnas apurados, o chavista recebeu 51,2% dos votos contra 44,2% de Edmundo González Urrutia que encabeçou a chapa de oposição no lugar de María Corina Machado, segundo o CNE.
Mais de 21 milhões de venezuelanos estavam habilitados para votar nestas eleições que demonstraram o maior desafio real ao chavismo nos últimos anos. Respondendo ao chamado da oposição, milhares de venezuelanos amanheceram hoje em filas para votar assim que as primeiras urnas abriram às 6h da manhã (7h de Brasília).
O CNE divulgou o primeiro boletim de urnas já com resultados considerado “irreversíveis” após mais de cinco horas do fechamento das urnas. Amoroso acusou “ações terroristas” pelo atraso enquanto a oposição vinha denunciando ao longo da noite a paralisação de divulgação dos resultados para os fiscais de urna. Publicidade
Maduro se pronunciou minutos depois da divulgação dos resultados do CNE. “Temos que respeitar essa Constituição, temos que respeitar o árbitro e que ninguém tente desrespeitar essa bela jornada”, disse em frente a uma multidão que ele mesmo convocou que se reunisse em frente ao Palácio Miraflores.
“Sou um homem de paz. Sou um homem de diálogo. Nunca jamais pensei, jamais, em estar em cargo público de relevância. Sempre o que me levou foi o espírito de lutar por Venezuela”, continuou. E teceu elogios ao seu antecessor, Hugo Chávez, que morreu em 2013. “Minha única inspiração foi ser soldado de Hugo Chávez.”
Ele disse que já recebeu ligação de líderes da Nicarágua, Cuba e Bolívia para felicitar os resultados. “Sua ligação foi de admiração pela valentia desse povo”.
“Já ganhamos e todo mundo já sabe. Isso tem sido algo tão grande e abrumador que ganhamos em todos os cantos do país, em todas as cidades do país, em todos os Estados do país.”
“Sabemos o que aconteceu hoje”, afirmou María Corina. “Neste momento temos mais de 40% das atas. Estamos recebendo todas as atas que o CNE transmitiu e todas as informações coincidem que Edmundo recebeu 70% dos votos e Maduro 30% dos votos, esse é a verdade. E essa é a eleição com a maior margem de vitória. Parabéns Edmundo.”
“Quando digo que quando todo mundo sabe o que aconteceu aqui, me refiro ao próprio regime. Eles sabem o que pretendem fazer. Isso sabe toda a comunidade internacional, até mesmo os aliados. Todos sabem que os venezuelanos votaram por uma mudança”, continuou a líder opositora.Terminou dizendo: “Nos próximos dias vamos seguir anunciando as ações para defender a verdade.”
González Urrutia se pronunciou logo em seguida: “Os venezuelanos e mundo todo sabemos o que aconteceu hoje. Aqui foram violadas as normas já que não foram entregues todas as atas”. “Nossa mensagem de reconciliação segue vigente. Nossa luta continua e não descasaremos até que a vontade do povo de Venezuela seja respeitada.”
Quando questionado se estava chamando os venezuelanos a ir às ruas, o diplomata afirmou que não estava chamando para a violência. “É uma celebração cívica”, concordou María Corina.
Para o cientista político venezuelano Xavier Rodríguez-Franco, a ditadura chavista começa a repetir o modus operandi das eleições de 2013, quando Maduro venceu por uma margem estreita e contestada as eleições contra Henrique Capriles. “Traz muitas reminiscências do que foi o processo eleitoral de 2013, que basicamente era atrasar a divulgação das atas, dificultar o acesso à sala de totalização, além das dificuldades de acesso à imprensa durante todo o dia”, afirmou.
“Atualmente se vivem horas muito críticas na Venezuela. Apesar de que se funciona o voto eletrônico e o processo automatizado de transmissão e totalização dos resultados, sempre tem sido uma constante a sequência de ações que parecem formar um padrão, especialmente quando há eleições que foram competitivas”, continua.
Temos que esperar, ver que comportamento tem a população por um lado e por outro lado a liderança da oposição e também da comunidade internacional. Esta é uma conjuntura onde os olhos do mundo estão postos sobre a Venezuela e, claro, o governo não tem os mesmos aliados que tinha em 2018, tanto nacional como a nível internacional”, conclui.