29/07/2024 às 13h10min - Atualizada em 29/07/2024 às 13h10min
Ministério esconde dados sobre saúde Yanomami após crise causada por aumento de mortes
Pasta não publica boletim mensal com número de óbitos de indígenas desde fevereiro; questionado, o governo diz que está revisando informações para fornecer estatística ‘precisa’
O Ministério da Saúde parou de divulgar boletins com dados sobre número de mortes e incidência de doenças e desnutrição na Terra Indígena Yanomami em Roraima. O último relatório foi publicado em fevereiro, com informações referentes a dezembro.
O governo também deixou de responder os pedidos sobre a situação na região apresentados via Lei de Acesso à Informação (LAI). Em nota a pasta informou que “divulgará em breve um balanço com dados atualizados sobre o povo Yanomami” e que os números estão passando por revisão da área técnica para “garantir a precisão”.
O território Yanomami é uma região pressionada pelo garimpo ilegal, que acaba poluindo os rios da região e afugentando a caça, impactando nos meios de sobrevivência da população. Além da incidência de doenças como a malária, o povo sofre com a desnutrição e conflitos com garimpeiros. Havia uma expectativa de que a intensificação de ações do governo na região trouxesse a redução no número de mortes, o que não aconteceu.
Além de reclamar dos resultados da força-tarefa, o presidente criticou o fato de os dados de mortalidade terem vindo à tona por meio da imprensa, via LAI. Agora, a pasta não tem respondido nem mesmo os pedidos submetidos por lei de acesso. Uma das solicitações sobre o tema foi negada com o argumento de que os dados estão em “tratamento e serão publicizados quando da sua conclusão”.
Aumento de casos de malária A reportagem pediu à pasta dados atualizados sobre o número de mortes no território Yanomami, mas as informações não foram fornecidas. O ministério repassou apenas os casos de malária registrados na região.
Os dados mostram alta na incidência da doença. Enquanto no primeiro semestre de 2023 foram registrados 14.550 casos de malária, no mesmo período deste ano foram 17.348, um aumento de cerca de 20%.
No mesmo período, no entanto, a quantidade de testes passou de 78.777 para 128.693, um crescimento de 63%, de acordo com a Saúde. “O aumento na realização de exames explica a maior identificação do número de casos de malária”, disse o governo em nota.
Em relação ao tratamento, a pasta afirmou que treinou 224 profissionais de saúde para ministrar a tafenoquina. O medicamento, que foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) em junho de 2023, é ministrado em dose única, combinado com três dias de uso de cloroquina.
Antes, o tratamento contra malária era feito majoritariamente com primaquina, que deve ser usada por sete dias. Segundo o ministério, o novo medicamento “reduz o tempo de tratamento, aumenta a adesão e evita recaídas.”