11/12/2024 às 07h21min - Atualizada em 11/12/2024 às 07h21min

Amazônia: número de cidades com atuação de facções criminosas salta 46% em um ano. 14 estão em Roraima

Estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta presença de facções em 260 cidades da Amazônia. Em 2023, eram 178 nessa situação

O número de cidades da Amazônia com registro de presença de facções criminosas aumentou 46% entre 2023 e 2024, revelam dados do estudo Cartografias da Violência na Amazônia, divulgado nesta quarta-feira (11) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto Mãe Crioula.
 
A distribuição dessa presença criminosa por estado, em ordem decrescente, ficou da seguinte forma: 73 cidades no Pará; 48, no Maranhão; 42, em Mato Grosso; 26, em Rondônia; 22, no Acre; 21, no Amazonas; 14, em Roraima; nove, no Tocantins; e cinco no Amapá.
 
Ao todo, 260 dos 772 municípios que compõem a Amazônia Legal no território brasileiro têm registros da presença de integrantes de, pelo menos, uma facção, a exemplo do Comando Vermelho (CV)Primeiro Comando da Capital (PCC) e outros grupos locais. Em 2023, o mesmo estudo havia mapeado 178 cidades da região com esse tipo de presença criminosa.

“Cabe destacar que esse aumento não significa necessariamente que esses grupos criminosos passaram a estar presentes nesses novos municípios a partir deste ano. Isso pode ter ocorrido, sobretudo, devido ao aumento das operações policiais de combate ao crime organizado na região, que acabam revelando a existência dos grupos em localidades não mapeadas anteriormente”, explica o texto da pesquisa.

Confira o mapa abaixo:
Interiorização das facções
O levantamento atual revela, também, que há uma tendência de interiorização do avanço das facções, em busca de cidades consideradas estratégicas para o narcotráfico, independentemente do tamanho. Geralmente, elas estão próximas de fronteiras, de pistas de pouso no meio da floresta, de rodovias importantes, de portos fluviais e de locais de garimpo ilegal.

Ao mesmo tempo, houve um aumento, entre 2023 e 2024, de municípios na Amazônia com monopólio e presença de um único grupo criminoso, o que sugere um cenário de estabilização da guerra entre facções. No ano passado, eram 98 cidades, nessa situação, e agora são 176. Isso refletiu, inclusive, na redução da quantidade de grupos catalogados – passaram de 22 para 19.

Domínio do Comando Vermelho
A facção Comando Vermelho (CV) é a que lidera hoje em quantidade de cidades dominadas nos estados que compõem a Amazônia Legal. Ao todo, são 130 municípios sob monopólio de integrantes do grupo carioca, enquanto o PCC comanda 28 locais e o restante (18) está distribuído entre outras organizações criminosas.

Observa-se na distribuição do mapa de domínio que o Comando Vermelho foca, especialmente, nas cidades de fronteira. Vários dos municípios monopolizados pelo grupo nos estados de Mato Groso, Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá, fazem froteira com Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Suriname e Guiana Francesa.

Das 130 cidades dominadas pelo CV, 57 ficam no Pará e 23 em Mato Grosso. Já a hegemonia do PCC (cidades em amarelo na imagem acima) é mais perceptível em Rondônia, com 11 locais, e Roraima, com seis. A facção paulista tem ainda o domínio de cinco municípios no Pará, três no Maranhão, dois em Tocantins e um em Mato Grosso.

Entre os grupos locais, que são aqueles de perfil regional ou de atuação em um único estado, destacam-se o Bonde dos 40, que domina 10 cidades no Maranhão, e o Piratas dos Solimões, facção hegemônica em três municípios do Amazonas e que é especializada em roubo de cargas, “inclusive de drogas trazidas pelos criminosos estrangeiros de Colômbia e Peru”.
 
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“Velocidade surpreendente”
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública considera “surpreendente” a velocidade com que os grupos criminosos avançam e se tornam presentes na Amazônia. Apesar disso, a instituição ainda avalia o resultado do estudo como “conservador”, pois acredita numa possível subnotificação da realidade.

De modo geral, a intensificação desse contexto é atribuído a dois fatores. O primeiro, de acordo com a pesquisa, são as alianças entre grupos dentro do sistema prisional e o recorrente processo de adesão de novos integrantes por meio de “batismos”. Já o segundo tem a ver com a dinâmica específica do mercado de drogas e com a posição estratégica da Amazônia enquanto área central de trânsito.

Por a região ser uma rota obrigatória do narcotráfico, “há o interesse do crime organizado em obter o controle das principais redes geográficas e estabelecer relações com grupos criminais dos países da América Andina que são produtores de cocaína”, como Bolívia, Colômbia e Peru. Não à toa, as cidades de fronteira despertam o interesse das facções.
Presença na fronteira

O estudo mapeou 83 municípios que estão na zona de fronteira da Amazônia Legal, no Brasil, e que têm presença de grupos criminosos. Eles são alvos de disputa frequente no xadrez do mundo crime. A distribuição ficou da seguinte forma: 21 em Mato Grosso, 20 no Acre, 18 em Rondônia, 15 em Roraima, oito no Amazonas e um no Amapá.

No Pará, especificamente, a estratégia tem sido diferente. Apesar de o estado fazer fronteira com a Guiana e o Suriname, a distância das sedes municipais e a dificuldade geográfica imposta pela composição territorial dos municípios fazem com que a rota original do tráfico e contrabando desses países ocorra via oceano Atlântico, “passando muitas vezes pelo estado do Amapá ou vindo direto para o Pará”.

Nesse sentido, as pistas de pouso construídas ilegalmente no meio da floresta ou em áreas de proteção ambiental auxiliam na logística das facções. Levantamento feito pelo MapBiomas em 2021 identificou 2.869 pistas de pouso na Amazônia – a maioria sem autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
 
Fonte: Metrópoles/Fórum Brasileiro de Segurança Pública
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