Desde 2018, Venezuela não paga a dívida com o Brasil, acumulando calotes bilionários
- Fonte: CPG
30/01/2025 06h05 - Atualizado há 13 horas
Parte do metrô de Caracas foi financiada com recursos do BNDES emprestados pelo Governo Brasileiro.
O Brasil investiu pesadamente na Venezuela, destinando mais de R$ 6 bilhões para projetos como a construção da Usina Siderúrgica Nacional, um estaleiro e a ampliação do sistema de metrô. Esse movimento trouxe à tona um enredo marcado por crises, escândalos e questionamentos sobre as escolhas econômicas do país.
Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, na década de 1990, o Brasil iniciou um amplo financiamento para a construção e expansão dos sistemas de metrô na Venezuela. Através do BNDES, foram alocados R$ 2,2 bilhões para empresas brasileiras, como a Odebrecht, que assumiram a tarefa de desenvolver esses projetos internacionais.
Os sistemas de metrô de Caracas e Los Teques, apoiados pelo BNDES, tinham como objetivo melhorar o transporte para milhões de passageiros. O metrô de Caracas, lançado em 1983 e ampliado ao longo dos anos, atualmente conta com 48 estações e uma extensão superior a 70 quilômetros. Em Los Teques, apesar de uma menor escala, a expansão também foi significativa.
Outro grande projeto financiado pelo BNDES na Venezuela foi a construção da Usina Siderúrgica Nacional, liderada pela empreiteira Andrade Gutierrez. O contrato, firmado em 2010, previa um empréstimo de US$ 865 milhões. No entanto, com as investigações da Operação Lava Jato, esse financiamento acabou suspenso.
A crise econômica na Venezuela e os escândalos de corrupção envolvendo a Odebrecht, especialmente revelados pela Operação Lava Jato, comprometeram a continuidade desses projetos. Revelações apontaram para esquemas de propina e financiamentos ilegais em campanhas presidenciais venezuelanas, agravando ainda mais a situação.
Esse investimento no sistema metroviário da Venezuela é um exemplo claro da oportunidade perdida de aplicar esses recursos em melhorias de infraestrutura no Brasil. O atraso nas obras e a inadimplência da Venezuela geram críticas à política externa brasileira e à gestão econômica.
Dívida bilionária da Venezuela com o BNDES
Desde 2010, a Venezuela enfrenta uma grave crise econômica que a impede de cumprir seus compromissos financeiros com o Brasil. Entre esses compromissos está o pagamento pelo desenvolvimento dos projetos de metrô, que fazem parte de uma dívida que ultrapassa 6 bilhões de dólares.
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Enquanto isso, o Brasil enfrenta um déficit significativo em transporte público, com mais de 850 quilômetros de metrôs e trens necessários para atender à demanda. A decisão de investir em projetos internacionais, ao invés de priorizar as necessidades internas, levanta sérias dúvidas sobre a gestão dos recursos públicos.
Com os pagamentos em atraso, a história dos investimentos nos metrôs venezuelanos se torna um alerta sobre os riscos de grandes aportes no exterior, sem garantias sólidas de retorno ou benefícios concretos para a população brasileira. O debate sobre esses financiamentos deve continuar, à medida que novos desdobramentos surgem.
Lula defende empréstimos a países devedores
O presidente Lula tem defendido os financiamentos do BNDES a outros países. “Todo mundo paga, você pode ter dificuldade aqui ou ali, mas todo mundo paga”, afirmou. Contudo, os dados do BNDES indicam que três países, incluindo a Venezuela, acumularam uma dívida total de 8,2 bilhões de reais com o Brasil. Só a Venezuela deixou de pagar mais de 3,45 bilhões de reais desde 2018, enquanto Moçambique deve 641 milhões de reais e Cuba, mais de 4,32 bilhões de reais.
Esses empréstimos, oficialmente chamados de “programa de financiamento à exportação de serviços de engenharia”, beneficiaram grandes empreiteiras brasileiras como Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Camargo Correa e OAS — todas envolvidas em escândalos de corrupção na Operação Lava Jato. As dívidas ficam com os países que receberam os empréstimos, responsáveis por quitar os valores.
Entre 1998 e 2017, o BNDES emprestou 55 bilhões de reais, sendo 88% desse total liberado entre 2007 e 2015, durante os governos Lula e Dilma, com críticas de que o dinheiro público teria sido usado para favorecer governos aliados.
Em Cuba, por exemplo, o Brasil financiou a construção do Porto de Mariel, ao custo de 4,2 bilhões de reais. Como garantia, Cuba apresentou ativos da indústria de tabaco, atrelando o pagamento à produção de charutos. Já na Venezuela, o governo de Hugo Chávez foi beneficiado com a ampliação do Metrô de Caracas, a construção de um estaleiro e a Usina Siderúrgica
Nacional, cujas obras foram interrompidas. Em Moçambique, os empréstimos financiaram a construção do Aeroporto de Nacala e da Barragem de Moamba Major, com os contratos firmados a partir de 2011, já na gestão Dilma, mas com o aval de Lula.