A baixa participação, indicaram informações extra-oficiais divulgadas por jornalistas locais, prevaleceu neste domingo nas eleições parlamentares e para governador realizadas na Venezuela, que, como aconteceu outras vezes na História recente do país, não contaram com a participação da grande maioria dos partidos de oposição.
Com lideranças opositoras presas e outras no exílio, e após a disputa pela Presidência de 2024 ter terminado com denúncias de fraude que se mantém até hoje, a oposição mais forte ao chavismo boicotou a eleição convocada pela ditadura de Nicolás Maduro.
Como era esperado, e mantendo a narrativa clássica do chavismo, a ditadura venezuelana ignorou a baixa participação e antecipou, através de suas lideranças, uma vitória esmagadora que, segundo elas, solidificará ainda mais o poder de Maduro. Até o momento, não foram divulgados resultados oficiais.
O pleito ocorreu poucos dias após uma onda de prisões de cerca de 70 líderes da oposição, acusados de fazer parte de uma "rede terrorista" que tentava sabotar as eleições.
Pouco mais de 21 milhões de eleitores estavam convocados às urnas para eleger 285 deputados à Assembleia Nacional e 24 governadores, incluindo pela primeira vez a representação de um estado recém-criado para o território do Essequibo, disputado com a Guiana há mais de um século. Sobre a questão, Maduro afirmou neste domingo que "mais cedo do que nunca" a Guiana terá que "aceitar a soberania" da Venezuela:
Maduro também anunciou que adiará sua proposta de reforma da Constituição até janeiro do ano que vem e anunciou que apresentará um projeto de lei para um sistema de votação por "circuito comunitário". Qualquer alteração na Carta Magna requer aprovação em referendo popular.
O processo de votação teve início às 6h (7h em Brasília) e, na primeira hora, a maioria dos centros de votação no centro de Caracas estava vazia, com apenas um punhado de eleitores em fila. A imagem contrasta com a alta participação registrada nas eleições presidenciais de 28 de julho. As urnas ficaram abertas até as 18h (19h em Brasília), com extensão de uma hora para as seções onde eleitores ainda aguardavam nas filas.
Onda de prisões
Atualmente, o chavismo, no poder há 25 anos, ocupa 253 dos 277 assentos na Assembleia Nacional, depois que a oposição se retirou das eleições legislativas de 2020. Também controla 19 das 23 governadorias.
Em uma declaração publicada em sua conta no X, o opositor Edmundo González, que concorreu contra Maduro nas eleições presidenciais, descreveu a eleição como uma "farsa" que tentou se disfarçar de eleição, mas não conseguiu enganar "nem o país nem o mundo". "O povo não endossou uma simulação que buscava legitimar o que é inerentemente ilegítimo", afirmou.
Uma pequena dissidência da oposição desconsiderou o chamado da líder da oposição, María Corina Machado, e participou das eleições deste domingo, como o duas vezes candidato presidencial Henrique Capriles.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado de servir ao presidente, proclamou Maduro vencedor das eleições presidenciais passadas, sem divulgar a apuração detalhada dos votos, como exige a lei. A autoridade alegou um ataque ao sistema, que agora diz ter sido blindado. Os protestos após a proclamação de Maduro resultaram em 28 mortes e mais de 2.400 prisões.
Disputa pelo Essequibo
No caso do Essequibo, serão eleitos um governador e oito parlamentares, que terão inicialmente um mandato simbólico, já que a Guiana administra essa rica região de 160 mil km². O presidente guianense, Irfaan Ali, denunciou a eleição como uma “ameaça”, enquanto a Corte Internacional de Justiça (CIJ), que julga um caso relacionado à disputa, pediu à Venezuela que se abstivesse de realizar esses comícios.
A Guiana solicitou à CIJ que ratifique as fronteiras estabelecidas em um laudo arbitral de 1899, mas a Venezuela apela ao Acordo de Genebra de 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, que anulava essa decisão e estabelecia as bases para uma solução negociada.