Em 2020 o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump apresentou uma acusação criminal contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, por tráfico internacional de drogas. Assim confirmou o chefe do Departamento de Justiça, William Barr, num pronunciamento transmitido pela Internet no qual anunciou “recompensas por informações que possam levar à detenção e à prisão” de Maduro e de outros membros da cúpula do regime.
Os demais funcionários venezuelanos acusados são Diosdado Cabello Rondón, presidente da “ilegítima Assembleia Constituinte”; Maikel Moreno, presidente do Supremo Tribunal de Justiça; Vladimir Padrino, ministro da Defesa; Hugo Carvajal Barrios, ex-diretor da inteligência militar; o general aposentado Cliver Alcalá Cordones; e Tarek El Aissami, ministro de Indústria e Produção Nacional. O Governo dos EUA oferece uma recompensa de 15 milhões de dólares (75 milhões de reais) por informações sobre Maduro e outra de 10 milhões de dólares (50 milhões de reais) por dados que levem à detenção dos demais dirigentes chavistas.
“O povo venezuelano merece um Governo representativo responsável e transparente a serviço das necessidades das pessoas, que não traia a confiança do povo ao perdoar ou empregar funcionários públicos envolvidos no tráfico ilegal de narcóticos”, afirmou em nota o secretário de Estado, Mike Pompeo. “Os EUA se comprometem a ajudar o povo venezuelano na restauração da democracia por meio de eleições presidenciais livres e justas.”
As acusações são uma nova escalada da pressão da Administração de Donald Trump para tirar Maduro do poder. “Hoje Nicolás Maduro será processado pelo Departamento de Justiça e acusado de narcoterrorismo”, havia dito no Twitter às 10h15 (em Washington) o senador republicano Marco Rubio, um dos legisladores norte-americanos mais beligerantes em relação ao regime chavista.
As acusações de atividades criminosas contra o Governo da Venezuela têm sido frequentes no Departamento de Estado. “[Maduro] lidera algo que se assemelha mais a cartel de drogas que a um Governo”, disse Pompeo em janeiro. “É hora de chamar este regime pelo nome”, afirmou o secretário Barr no anúncio desta quinta-feira.
Os EUA e dezenas de países reconheceram o opositor Juan Guaidó como presidente legítimo da Venezuela. Mais de um ano após o reconhecimento, no entanto, e com um país mergulhado numa profunda crise, Maduro continua no poder ―sustentado pelo Exército e apoiado por Cuba, Rússia e China.
O anúncio inquietou o Governo de Maduro, que há um ano enfrenta um isolamento internacional sem precedentes, desde que iniciou sua disputa com Guaidó. Nas últimas semanas, em meio à crise do coronavírus, o chavismo tentou restabelecer alguns canais diplomáticos e inclusive ensaiou uma tímida tentativa de retomar as relações com a vizinha Colômbia, a fim de explorar uma estratégia conjunta frente à pandemia. Mas as acusações de Washington fecharam esse caminho.
A primeira reação do sucessor de Hugo Chávez foi a habitual: uma acusação contra os governos de Trump e do colombiano de Iván Duque. “Ratifico minha denúncia! EUA e Colômbia conspiram e deram a ordem de levar a violência à Venezuela. Como chefe de Estado, sou obrigado a defender a paz e a estabilidade de toda a pátria, em qualquer circunstância. Não puderam nem poderão!”, escreveu o mandatário no Twitter, logo após o anúncio dos EUA.
As acusações feitas por Washington se referem à colaboração de Caracas com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), o grupo guerrilheiro que em 2016 assinou a paz com Bogotá, desmobilizou-se e se transformou em partido político. Durante a aplicação dos acordos, em agosto passado, alguns dirigentes da antiga guerrilha anunciaram seu regresso às armas, e as autoridades colombianas acusam Maduro de protegê-los na Venezuela. Os dois países são separados por uma fronteira de mais de 2.200 quilômetros, que agora está fechada por ordem de Duque para evitar a propagação da Covid-19.
Entre os dirigentes apontados por Washington, encontra-se a cúpula do chavismo. Diosdado Cabello representa a ala mais radical do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e já foi sancionado pelo Departamento do Tesouro dos EUA. Tareck El Aissami havia sido imputado por Washington por crimes relacionados com o narcotráfico. E Hugo Carvajal Barrios, conhecido como El Pollo, ex-chefe da inteligência militar, foi capturado ano passado em Madri e espera ser extraditado pela Justiça espanhola a Washington.
O Governo de Maduro está há anos sob a lupa das autoridades norte-americanas, e a recompensa pela captura do presidente é mais um passo de Trump na tentativa de fechar o cerco contra ele. Nas últimas semanas, houve alguns sinais de distensão entre o Governo e a oposição, que acordaram iniciar os trâmites para renovar o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) visando realizar as eleições legislativas previstas para este ano.