O número de estrangeiros e naturalizados vivendo no Brasil cresceu 70% entre 2010 e 2022, segundo dados do Censo Demográfico divulgados pelo IBGE. O total passou de 592 mil para mais de 1 milhão de pessoas, impulsionado principalmente pela chegada de imigrantes venezuelanos que passaram por Roraima nos últimos anos. O avanço marca uma mudança histórica: após décadas de queda contínua desde 1960, o país volta a registrar aumento na população vinda do exterior.
No mesmo período, além do aumento no número total de estrangeiros e naturalizados vivendo no Brasil, também mudou o perfil de origem dessa população. Em 2010, os portugueses eram o grupo mais numeroso entre os nascidos no exterior, mas, em 2022, foram superados pelos venezuelanos, que passaram a liderar esse segmento, com 271.514 pessoas residindo em solo brasileiro. Há 12 anos, eles representavam apenas 2,8 mil do contingente de estrangeiros.
Panorama dos últimos cinco anos
A América Latina e o Caribe passaram a representar a maior parte dos fluxos migratórios, saltando de 27,3% para 72% do total. Além da Venezuela, outros países como Bolívia, Haiti, Paraguai, Argentina e Colômbia também têm se destacado como importantes pontos de origem desses fluxos migratórios.
O argentino Federico Gonzalez, de 46 anos, representa muitos latinos que recomeçaram a vida no Brasil. Em 2010, ele trabalhava como gerente de despachos no Aeroporto Internacional de Ezeiza, em Buenos Aires, quando o desemprego e a falta de oportunidades bateram em sua porta. A escolha foi migrar para o Rio de Janeiro, mesmo que isso significasse atuar em um mercado diferente do qual estava habituado. A sólida rede de argentinos na capital fluminense facilitou sua chegada.
— Eu já tinha alguns amigos aqui, então conversamos sobre a possibilidade vir com emprego garantido, mas em uma área que não estava acostumado. Quando cheguei, já comecei a trabalhar, o que era diferente da situação na Argentina. Mas também acredito que, quando estamos fora do nosso país, nos abrimos para outras possibilidades profissionais que talvez não aceitaríamos em casa — contou o argentino.
Quando chegou ao Rio, Fred — como ficou conhecido por aqui — não falava português e começou trabalhar como segurança noturno em um Hostel de Ipanema. Mais tarde, passou a integrar a central de reservas da rede. Hoje, com CPF brasileiro, é gerente da companhia e lidera uma equipe de funcionários formada em cerca de 80% por latinos.
— Minha principal dificuldade ao chegar aqui foi a barreira da língua, mas eu me forcei a aprender, costumava escutar MPB e conversava muito com brasileiros de outros estados no Hostel, acho que o ambiente facilitou muito. Hoje em dia, procuramos acolher os que vêm de fora, porque nos identificamos com eles — destaca Federico.
Redução de europeus e norte americanos
Em contraste, houve queda expressiva na participação de imigrantes oriundos da Europa (de 29,9% para 12,2%) e da América do Norte (de 20,4% para 7,0%). A participação da Ásia também diminuiu, de 19,1% para 5,3%, enquanto África e Oceania apresentaram variações discretas: África caiu de 2,7% para 2,5% e Oceania teve leve aumento de 0,7% para 1,0%.
De acordo com a análise feita pelo IBGE, essa transformação também está ligada a outra mudança importante: até 2010, a maior parte dos fluxos migratórios vinha de regiões como Estados Unidos, Japão e países europeus. No entanto, esses fluxos eram compostos, majoritariamente, por brasileiros que estavam retornando ao país após viver no exterior — e não por estrangeiros de fato.
Como consequência, o número de imigrantes no Brasil não crescia de forma significativa, já que a população estrangeira que chegou no século passado estava envelhecendo e diminuindo.
Agora, o cenário é outro. A partir de 2010, o Brasil passou a receber cada vez mais estrangeiros nascidos em outros países, especialmente da Venezuela, Bolívia, Haiti, Colômbia e Paraguai. Esses novos fluxos passaram a compensar — e até superar — a redução anterior, marcando uma inversão da tendência de queda observada ao longo das últimas seis décadas.