Publicações nas redes sociais enganam ao afirmar que o Brasil teria perdoado uma dívida de aproximadamente R$ 10 bilhões da Venezuela, mas que logo em seguida o país vizinho teria taxado produtos brasileiros em até 77%.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) esclareceu que foi ressarcido pelo seguro, mas que a dívida venezuelana continua em aberto.
Já a cobrança de uma taxa extra por parte da Venezuela a produtos brasileiros realmente aconteceu e foi provocada por um erro técnico no sistema aduaneiro, segundo reportagem da Folha de S.Paulo. A falha foi corrigida e as isenções existentes previamente já foram restabelecidas.
O que diz o post
A publicação contém um trecho em vídeo do Jornal Nacional no qual a apresentadora Renata Vasconcellos noticia o tarifaço imposto por Donald Trump ao Brasil e a cobrança de uma taxa extra de 50% aos produtos brasileiros importados pelos EUA.
"E a taxação da Venezuela de 77% contra o Brasil logo depois do Brasil perdoar a dívida de 10 milhões da Venezuela?!! Qual é a chantagem???", diz a mensagem contida no post.
Por que é falso
BNDES já foi ressarcido, mas dívida não foi perdoada. Ao UOL Confere, a instituição afirmou que "associação do BNDES à alegação de que o Brasil perdoou 'dívida bilionária da Venezuela' é falsa" e esclareceu que "as prestações de principal e juros não pagas pela Venezuela já foram integralmente indenizadas pelo Seguro de Crédito à Exportação (SCE), sendo a última paga em junho/2025, e cedidas à União. Dessa maneira, não resta saldo devedor de financiamentos junto ao Banco".
Dívida venezuelana chega a quase R$ 10 bilhões. Em março, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) pediu para o Ministério da Fazenda detalhar a dívida da Venezuela com o Brasil (aqui). Em resposta ao parlamentar, a pasta esclareceu que o valor era de US$ 1.740.636.754,07 (pouco mais de R$ 9,8 bilhões na cotação de hoje) (aqui) ao final de fevereiro. O total leva em conta os juros da mora pelo atraso da dívida e a quantia paga pela União em indenização aos bancos financiadores (aqui).
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Governo venezuelano ignora cobranças do Brasil. Ainda segundo o mesmo documento, as conversas entre os dois países para resolver a questão estão estagnadas: "A negociação se encontra suspensa em razão da ausência de respostas do governo venezuelano. A resolução da questão depende do engajamento da contraparte, não sendo possível assim estimar um prazo para conclusão" (aqui).
Inadimplência da Venezuela começou em 2018. A dívida foi contraída pelo país vizinho entre 2009 e 2016, durante as gestões de Lula e Dilma Rousseff. O BNDES gastou R$ 1,5 bilhão na época para financiar obras de infraestrutura na Venezuela, como a construção de linhas de metrô em Caracas e de uma usina siderúrgica. O banco concedeu operações de crédito para exportar serviços brasileiros de engenharia (aqui). Pelas regras estabelecidas, o BNDES pagava em reais para a empreiteira brasileira responsável pelas obras; já os venezuelanos deveriam reembolsar o valor ao banco em parcelas e em dólar, com o devido acréscimo de juros (aqui). Porém, o regime de Nicolás Maduro não conseguiu honrar com seus compromissos, uma vez que o país tem enfrentado grave crise econômica.
BNDES acionou seguro para cobrir calote. O banco recorreu ao SCE (Seguro de Crédito à Exportação) para ressarcir as empresas brasileiras contratadas para atuar na Venezuela (aqui). Elas foram pagas com recursos vindos do FGE (Fundo de Garantia à Exportação), que é vinculado ao Ministério da Fazenda.