13/06/2023 às 17h10min - Atualizada em 13/06/2023 às 17h10min

Entrada de venezuelanos por Roraima dispara com mais crianças, idosos e doentes.

O aumento de imigrantes fez disparar o número dos que vivem nas ruas de Pacaraima, acentuando a crise humanitária.

- Por: Carlos Madeiro/Colunista do UOL
Venezuelanos dormem nas calçadas de Pacaraima, após o ingresso no Brasil feito pela fronteira em Pacaraima (Roraima).




A entrada de imigrantes venezuelanos pela fronteira de Pacaraima (RR) aumentou 64,3% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2022. Quem acompanha a crise humanitária na cidade atribuiu a alta à chegada de mais crianças desacompanhadas, idosos e pessoas doentes.

O que está ocorrendo

Entre janeiro e março deste ano, entraram 51.838 venezuelanos por Roraima — no mesmo período do ano passado foram 31.552. Os dados são da Operação Acolhida, da Casa Civil do governo federal.

Em relação ao último trimestre de 2022, também houve um aumento de 21% na chegada de pessoas vindas da Venezuela (foram 42.604).
 
O aumento de imigrantes fez disparar o número dos que vivem nas ruas de Pacaraima, acentuando a crise humanitária. Há relatos de prática de crimes, gerando críticas à permanência deles nas ruas. Entidades expõem a ação truculenta da polícia em alguns casos.
 
Com 20 mil habitantes, em 2022 a cidade teve um fluxo de venezuelanos equivalente a oito vezes o total da população (veja abaixo a evolução dos números nos últimos seis anos).
 
A maioria dos venezuelanos que chega à cidade é levada para Boa Vista. Depois, os imigrantes vão para municípios que os apoiam na reconstrução da vida em outro país.
 
De 2017 até o ano passado, 906 municípios receberam 89 mil venezuelanos. Curitiba lidera o ranking, com 5.700 venezuelanos recebidos em seis anos.
 
A pedido de entidades de apoio, nenhum venezuelano foi entrevistado nesta reportagem. A coluna procurou o Ministério da Justiça (indicado para falar do tema pela Casa Civil) e a Secretaria de Segurança Pública de Roraima, mas não teve retorno.
 
ONU se diz preocupada

A vinda de pessoas em condições de vulnerabilidade ocorre, em regra, porque elas são as que têm mais dificuldade de migração e tendem a esperar mais por melhora de condições — o que não ocorre hoje na Venezuela. A situação está sendo monitorada e preocupa a Acnur (Agência da ONU para Refugiados).

As pessoas idosas, com debilidades, estão chegando em maior número do que no período de pré-pandemia. É um recorte de maior vulnerabilidade, que requer uma maior atenção, com serviços de atendimento público especial às necessidades dessa população.
 
Lula por apoio a Maduro

Um dos líderes em apoio aos venezuelanos em Pacaraima, o padre Jesus de Bobadilla afirma que a cidade está cansada da migração, e o problema parece estar longe de uma solução.
A Igreja vai inaugurar neste ano um centro pastoral dedicado à atenção ao idoso. Atualmente, a igreja já atende 600 crianças em centros educativos, mas o número é pequeno perto do quantitativo que chega.

Para ele, a fala do presidente Lula de que havia uma narrativa de crise na Venezuela é um "escândalo".
O que diz o padre


A cidade está perturbada por milhares de venezuelanos. Pacaraima era uma cidade pacata, e nesse meio vem muito malandro, e temos muitos homicídios. Não fosse pelo Exército, seria impossível habitar. Estamos repartindo marmita para minorar este drama, mas o problema está cansando as pessoas: hoje são 3 mil, 4 mil crianças venezuelanas nas ruas. Há muito mais crianças agora; no começo eram mais adultos. É um número alarmante. A situação está piorando; nós, instituições, só minimizamos, não resolvemos. A solução está em Caracas, e vimos um dos principais responsáveis por isso [Nicolás Maduro] ser aplaudido. É um contraste acolhermos as vítimas e apoiarmos quem é culpado."

 
 "Enxugar gelo"


A presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Maceió, Teca Nelma (PSD), esteve em Pacaraima há duas semanas e classificou a situação como desesperadora. "É uma crise humanitária sem precedentes."

Ela visitou em representação a Casa Ranquines, entidade que apoia indígenas venezuelanos que vivem em Maceió e afirma que o alcoolismo tem atingido especialmente esse grupo. Também disse que a língua está sendo modificada graças à grande presença de venezuelanos. "Os próprios roraimenses já falam um 'portunhol'", diz.

O que diz a vereadora

Todos os dias chegam menores desacompanhados, pessoas com deficiência, mulheres em situação de vulnerabilidade e de violência. Mas também vem o tráfico incluído no meio. Pacaraima se tornou uma cidade literalmente para receber essas pessoas. É uma situação de enxugar gelo. O que vi também é que os subempregos são sempre feitos por indígenas ou venezuelanos, e existe um sentimento na cidade de que eles 'estão roubando nosso empregos e não contribuem para nossa sociedade'." Teca Nelma
 
A preocupação com a alta na violência foi tema de uma audiência pública no município no último dia 26. A prefeitura informou que está montando uma guarda municipal para ajudar na segurança, inicialmente com 29 profissionais. 

O vice-prefeito, Simeão Peixoto (PV), afirma que por mais que a cidade apoie os venezuelanos na chegada, há limite e defende mais apoio dos governos estadual e federal. Segundo ele, entre abril de 2021 a dezembro de 2022, todos os imigrantes que estavam nas ruas foram abrigados após as 19h. Mas, com o aumento do fluxo, isso tornou-se inviável.

O que diz o vice-prefeito 

O município não tem, nem nunca vai ter, condição logística para fazer uma operação duradoura sem a força policial funcionar. Mesmo com toda dificuldade nunca deixamos ou abandonamos eles; nem de fazer valer a lei, a segurança e a ordem em nosso município."

 
 
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