29/06/2023 às 10h46min - Atualizada em 29/06/2023 às 10h46min

Rios na terra yanomami em Roraima apresentam cor melhor após cinco meses de operação contra garimpo ilegal.

Os rios da Terra Indígena Yanomami em Roraima apresentam mudança de coloração após quase cinco meses da operação do governo federal contra o garimpo ilegal na região.

- Fonte: FolhaPress/Forças Armadas
A cor das águas dos rios de Roraima começou clarear depois que acabaram os garimpos ilegais em terras indígenas.



Imagens de satélite da Polícia Federal e das Forças Armadas mostram como as águas de rios como o Uraricoera estão mais escuros em comparação ao marrom-barro predominante das imagens do início do ano. A coloração mais clara é causada justamente pela atividade do garimpo, que perfura os fundos dos rios e deixa a água lamacenta.

Além disso, a atividade de extração ilegal do minério também contamina as águas com mercúrio, que é usado para facilitar na separação do ouro da terra.
O general Costa Neves, comandante do Comando Militar da Amazônia, afirma que o estrangulamento do garimpo é uma conquista para a terra indígena voltar à normalidade. “Nossa inteligência vai produzir dados que vão ajudar as agências a planejar as suas atividades e suas missões, para garantir a preservação do meio ambiente”, diz.



O Ibama (Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis) afirmou que iniciará, a partir do segundo semestre, estudos de campo para mensuração dos níveis de mercúrio nas águas e ações de recuperação da fauna e da flora. “A partir do segundo semestre, vamos fazer ações para também diagnosticar como fazer as medidas mitigatórias para promover a recuperação ambiental”, conta Diego Bueno, superintendente substituto do Ibama em Roraima.

“É sabido que crateras de 20, 30 metros de profundidade e com até 3 hectares de tamanho [como as de garimpo] são de difícil recuperação, mas a natureza, se a gente deixá-la agir, com o tempo, ela tende a se recuperar”, completa. Para Bueno, é importante criar programas para tentar evitar que os animais, as plantas e até os seres humanos se contaminem com o mercúrio já despejado nos rios do território. “O mercúrio já foi derramado, ele já existe na água. Mesmo que o garimpo acabe, ainda pode ter contaminação ao longo do tempo”, ressalta.

O mercúrio, metal extremamente tóxico, é uma fonte inesgotável de problemas para os seres vivos. Volátil, o elemento pode contaminar ecossistemas aquáticos e terrestres —e retirá-lo de qualquer local é tarefa árdua. Presente no combalido território yanomami em razão do garimpo, que, além de propagar doenças, impossibilita o uso de solo e rios para agricultura e pesca, o mercúrio se espalha pela corrente sanguínea dos seres humanos, causando falência de órgãos e complicações no sistema nervoso central.

A operação na Terra Indígena Yanomami começou no início de fevereiro, após o presidente Lula (PT) visitar a região e o Ministério da Saúde decretar estado de emergência sanitária. O garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami quase triplicou em 2022 na comparação com 2020 —quando teve início o monitoramento feito pela Polícia Federal na região. Segundo a PF, o garimpo ocupava 14 km² do território em 2020, passou para 23,7 km² em 2021 e para 41,8 km² em 2022 —um crescimento de 76% em um ano e de 198% desde o início do monitoramento.

As ações de repressão são encabeçadas, sobretudo, pela Polícia Federal e pelo Ibama, com auxílio da PRF (Polícia Rodoviária Federal) e da Força Nacional. Neste mês, o governo Lula publicou um decreto que autoriza as Forças Armadas a também atuar em atividades de combate à atividade ilícita. Até então, os militares prestavam ajuda humanitária, com distribuição de cestas básicas e de insumos (como medicamentos e combustível), logística (transporte de tropas e planejamento) e inteligência (por exemplo, com uma aeronave com capacidade de fotografar os garimpos).

A intenção agora é, junto com outros órgãos que atuam na área, ocupar o território yanomami com novas bases e com equipes passando dias na floresta.
Pessoas envolvidas nas ações afirmam, sob anonimato, que o perfil de atuação dos garimpeiros se adaptou, com trabalho noturno, acampamentos dentro da mata e até com equipamentos ficando enterrados durante o dia para dificultar a fiscalização.

Segundo essas pessoas, os garimpeiros se entocaram em pontos que ficam até cinco quilômetros dentro da mata e também estão nas regiões mais próximas da fronteira com a Venezuela. Segundo balanço das Forças Armadas, há 1.200 militares —entre Marinha, Força Aérea e Exército— em ação no território. Já foram entregues quase 24 mil cestas básicas e feitos mais de mil lançamentos delas por aeronaves.

Segundo as forças de segurança, resta menos de 10% do garimpo antes existente na Terra Indígena Yanomami. Já foram apreendidas mais de 40 toneladas de cassiterita, cerca de 1.700 quilos de ouro e quase 9.000 litros de combustível.

 
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