11/10/2023 às 09h03min - Atualizada em 11/10/2023 às 09h03min

Corrida por minerais críticos pode agravar conflitos sociais na Amazônia.

Apesar de ainda não ser um ator relevante neste mercado, o Brasil abriga 94% das reservas mundiais de nióbio, 22% de grafite e 16% de níquel, além de representar 17% de terras raras, o terceiro maior depósito do planeta.

- Fonte: RTP/Agência Brasil

“O Brasil precisa definir seu papel e sua estratégia, se quiser responder à demanda mundial por energia renovável”, resume um estudo do think tank Instituto Igarapé sobre o potencial do Brasil no mercado global dos minerais estratégicos à transição. O grupo defende que o país desenhe uma política socioambiental responsável para a exploração das matérias-primas que serão essenciais à fabricação de baterias de veículos elétricos e outras tecnologias de energia renovável.

No contexto está a aceleração da demanda internacional por minerais como cobre e lítio, os acordos climáticos para triplicar as instalações renováveis e a prolongada guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Esses eventos estão levando a uma corrida de economias industrializadas como Estados Unidos e Europa por maiores reservas e independência da China, que hoje domina o processamento desses minérios.

Ao mesmo tempo, o Brasil tenta costurar com os Brics uma aliança para “negociar em pé de igualdade” o fornecimento de matérias primas com as nações industrializadas. "Na complicada geopolítica da transição energética, o Brasil pode ter um papel de destaque”, defende o instituto.

Segundo o estudo (.pdf), apesar de ainda não ser um ator relevante neste mercado, o Brasil abriga 94% das reservas mundiais de nióbio, 22% de grafite e 16% de níquel, além de representar 17% de terras raras, o terceiro maior depósito do planeta.

Transição precisa ser justa

A questão é cuidar do mercado doméstico. Enquanto negocia a formação de alianças internacionais, o país também precisa definir internamente uma política para que a exploração desses recursos ocorra de forma sustentável em todos os sentidos.

Um dos pontos que o think tank chama a atenção é sobre a Amazônia e o custo-benefício climático da exploração mineral na região. A Amazônia Legal concentra aproximadamente 30% das ocorrências conhecidas de minerais estratégicos, como estanho, potássio e alumínio – 4,4% delas em terras indígenas e 14,9% em unidades de conservação.

“Os impactos da mineração vão muito além dos locais de escavação. A construção de novas vias de acesso e tubulações para abastecimento de água, por exemplo, pode ter impactos significativos no meio ambiente e afetar as populações da região”, explica o estudo. A pesquisa mostra que há possibilidade de impactos em um raio de até 70 km ao redor das minas.

“A abrangência desse impacto cria a necessidade de instrumentos como a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), que regula a arrecadação e distribuição dos royalties da mineração”, defende.

Sem benefícios locais e com os impactos da mineração sendo sentidos pela população, o risco é agravar ainda mais os conflitos nessas regiões, “fragilizando a ‘licença social’ para minerar”. O estudo aponta que, só em 2020, as disputas relacionadas à mineração envolveram 144 empresas em 564 localidades.

O engajamento, a consulta das partes interessadas e os procedimentos de gestão ESG podem ajudar a mitigar conflitos envolvendo empresas de mineração. “Embora o governo Bolsonaro tenha flexibilizado alguns protocolos de consulta às partes envolvidas, a administração do presidente Lula indica querer restabelecê-los”, avaliam os pesquisadores.

Um dos exemplos é a ratificação do Acordo de Escazú – tratado internacional de direitos ambientais assinado por 25 nações latino-americanas e caribenhas em 2018. O documento foi enviado pelo governo federal para ratificação do Congresso Nacional em maio de 2023, após anos de espera.

Metas inatingíveis

Os fabricantes de veículos e componentes estão encontrando dificuldades na transição para uma mobilidade puramente elétrica, de acordo com uma pesquisa global encomendada pela ABB Robotics. O levantamento com 600 especialistas do setor automotivo mostra que mais da metade (59%) dos entrevistados acredita que a mudança para a produção de veículos elétricos não é alcançável dentro dos prazos legislativos atuais.

Os desafios estão na adaptação a uma nova cadeia de suprimento de baterias, preocupações com os elevados níveis de investimento de capital necessários, escassez de matérias-primas, infraestruturas adequadas e falta de capacidade da rede. A adaptação a uma nova cadeia de suprimento de baterias foi citada como uma barreira importante por 19% dos entrevistados.

Escassez de cobre

Os maiores produtores de cobre do mundo alertaram que faltam minas em desenvolvimento para fornecer metal suficiente para acompanhar a transição para energia limpa. O alerta surge num momento em que as mineradoras lutam com a queda dos preços dos metais devido à fraqueza da economia global e à inflação de custos, relata o Financial Times.

IRA acelera eletrificação

Um ano após a sanção da Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês) pelo governo Biden, as mudanças nos planos de investimentos para a transição energética estão cada vez mais visíveis nas indústrias dos Estados Unidos.

Em entrevista à agência epbr, a pesquisadora sênior de políticas de energia limpa e descarbonização do Inter-American Dialogue, Lisa Viscidi conta que o país experimenta um aumento nos investimentos, especialmente em veículos elétricos e baterias, com foco maior na produção nacional do que antes.

Crédito de carbono de energia

A empresa de geração compartilhada AXS Energia lançou o projeto Carbono Negativo para compensar emissões de GEE gerando créditos de carbono com a produção de energia solar. O projeto tem duas etapas principais: a elaboração do inventário de GEE da marca e o investimento na geração de créditos de carbono. Objetivo é ser carbono negativo até 2026.

A empresa possui usinas solares que fornecem eletricidade para o sistema interligado nacional. “Geramos créditos de carbono por cada MWh de energia renovável que injetamos na rede. Esses créditos podem ser usados para neutralizar as nossas próprias emissões”, explica Rafael Pereira, responsável pelo projeto Carbono Negativo da AXS.

Hidrelétrica sustentável

A usina de Jirau, quarta maior geradora de energia elétrica do Brasil, é também a segunda hidrelétrica no mundo a receber certificação do Conselho de Sustentabilidade Hidroelétrica atestando o bom desempenho em 12 critérios de avaliação ESG (ambiental, social e governança) do empreendimento.

Localizada a 120 km de Porto Velho (RO), a usina gera eletricidade com as águas do rio Madeira, a partir de 50 unidades geradoras que somam 3.750 MW de capacidade instalada.

Nobel de Economia

A historiadora econômica norte-americana Claudia Goldin ganhou o Prêmio Nobel de Economia de 2023 por seu trabalho sobre a desigualdade salarial entre homens e mulheres. Goldin foi laureada pelo relato abrangente dos ganhos e da participação das mulheres no mercado de trabalho ao longo dos séculos. (Reuters/Agência Brasil)

Microplásticos nas nuvens

As nuvens que se concentram acima das montanhas Fuji e Oyama, no Japão, estão poluídas com um nível alarmante de microplásticos, de acordo com uma pesquisa da Universidade de Waseda. As conclusões do trabalho mostram que os microplásticos movem-se rapidamente e por longas distâncias.


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