18/10/2023 às 13h32min - Atualizada em 18/10/2023 às 13h32min
CARNAVAL: Salgueiro contará mitologia dos Yanomami de Roraima para levar defesa da Amazônia à Sapucaí em 2024
- Fonte: Salgueiro/Extra
O líder Davi Copenawa esteve no Rio de Janeiro para o laçnamento do samba enredo que conta a história dos Yanomami. O Salgueiro fará um desfile em defesa da preservação da Amazônia no carnaval de 2024. No dia em que completa 70 anos, a escola anuncia neste domingo o enredo "Hutukara", que contará a mitologia Yanomami para destacar a luta dos povos originários por respeito e valorização da floresta.
O tema será levado à Sapucaí no próximo ano em meio aos esforços dos últimos meses de combate ao garimpo e de socorro a indígenas adoecidos em Roraima. "A parte do céu da qual nasceu a Terra" é o significado do termo que dá o título do enredo da vermelho e branco, que será desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira.
— Escolhemos divulgar o título do nosso enredo como um presente para a comunidade salgueirense nesse aniversário de 70 anos. Estamos na fase da pesquisa e muito fascinados com tudo o que estamos lendo e vendo. Através da mitologia dos Yanomami, queremos fazer uma defesa enfática da Amazônia, mostrar como essa natureza exuberante é importante para todos nós. É um enredo muito sagrado — afirma o carnavalesco.
Enredista da escola, o jornalista Igor Ricardo, recém-contratado para desenvolver a pesquisa do tema, conta que a sinopse do enredo será divulgada em maio, mas que os trabalhos já estão a todo vapor.
É uma responsabilidade e um grande desafio escrever sobre um tema tão necessário, não só para o carnaval, mas para o Brasil e o mundo. Estamos, Edson e eu, totalmente mergulhados neste universo tão rico e vasto para entregar aos compositores salgueirenses uma sinopse que renda um samba digno de entrar para a lista dos mais bonitos da nossa galeria — comenta Igor.
Confira a letra do Samba Enredo, dos compositores Marcelo Motta, Pedrinho da Flor, Arlindinho Cruz, Renato Galante, Dudu Nobre, Leonardo Gallo, Ramon Via13 e Ralfe Ribeiro.
"É HUTUKARA! O chão de Omama
O breu e a chama, Deus da criação
Xamã no transe de yakoana
Evoca Xapiri, a missão...
HUTUKARA, ê! Sonho e insônia
Grita a Amazônia, antes que desabe
Caço de tacape, danço o ritual
Tenho o sangue que semeia a nação original
Eu aprendi português, a língua do opressor
Pra te provar que meu penar também é sua dor
Falar de amor enquanto a mata chora, (bis)
É luta sem Flecha, da boca pra fora!
Tirania na bateia, militando por quinhão,
E teu povo na plateia, vendo a própria extinção
"Yoasi" que se julga: "família de bem", (bis)
Ouça agora a verdade que não lhe convém:
Você diz lembrar do povo Yanomami em dezenove de abril,
Mas nem sabe o meu nome e sorriu da minha fome,
Quando o medo me partiu
Você quer me ouvir cantar em Yanomami pra postar no seu perfil
Entre aspas e negrito, o meu choro, o meu grito, nem a pau Brasil!
Antes da sua bandeira, meu vermelho deu o tom
Somos parte de quem parte, feito Bruno e Dom
Kopenawas pela terra, nessa guerra sem um cesso,
Não queremos sua "ordem", nem o seu "progresso"
Napê, nossa luta é sobreviver!
Napê, não vamos nos render!
YA TEMI XOA! aê, êa! (bis)
Meu Salgueiro é a flecha
Pelo povo da floresta
Pois a chance que nos resta
É um Brasil cocar!"