03/04/2024 às 07h58min - Atualizada em 03/04/2024 às 07h58min

Malária, fome, garimpo: Profissão Repórter mostrou situação dos Yanomami em Roraima um ano após ação do governo

O programa desta terça-feira (2) mostrou como o garimpo e as doenças trazidas pelos invasores continuam sendo a maior ameaça para esse povo.

Pouco mais de um ano depois da declaração de emergência de saúde pública na Terra Indígena Yanomami, o Profissão Repórter foi até Roraima para mostrar como estão as condições de vida na maior reserva indígena do Brasil.

Equivalente ao tamanho de Portugal, a região abriga mais de 30 mil indígenas, que, há várias décadas, sofrem com a invasão garimpeira.
Em 1992, após o avanço em massa do garimpo na região, a área foi demarcada. Em 2016, anos depois, essa atividade voltou a tomar conta do território Yanomami, levando doenças e fome para os indígenas que vivem ali.

O programa desta terça-feira (2) mostrou como um ano após a intervenção do Governo Federal, o garimpo e as doenças trazidas pelos invasores continuam sendo a maior ameaça para esse povo. Veja mais abaixo.
A equipe foi até Surucucu, na Terra indígena Yanomami. O único jeito de chegar comida lá é via aérea. Nas cestas de alimentos, contém produtos como farinha, arroz e uma proteína, como sardinha enlatada.

Transportadas em helicópteros, as cestas são lançadas em blocos e caem na pista de pouso da base de Surucucu (vejo no vídeo acima).

“Em virtude da dificuldade de a gente pousar com aeronaves maiores aqui, a forma que a gente tem para ser mais eficiente, entregar mais cesta ao mesmo tempo é dessa forma. E os paraquedas servem para amortecer a queda das cestas básicas para elas não danificarem no choque com o solo”, relata Eduardo Miguel Soares, Brigadeiro da Força Aérea Brasileira.

Do helicóptero, é possível ter uma dimensão do problema: focos de incêndio, áreas desmatadas e, no do verde, uma pequena aldeia com cerca de 40 famílias que estão com fome.

Para combater a crise humanitária na Terra Indígena Yanomami, o Governo Federal inaugurou o Centro de Referência em Saúde Indígena em 2023.

Quem apresentou o local para a equipe foi a médica Ana Paula Pina Borges. Ela trabalha há mais de 20 anos com saúde indígena e destacou os desafios enfrentados pelo povo Yanomami, com o surto de malária e desnutrição.

"Essa região era uma região virgem, não tinha contato com os brancos. O contato se deu pela porta dos fundos do garimpo e os garimpeiros trouxeram a malária, porque a malária não é do Brasil, ela é importada, no entanto, nós temos mosquito que é vetor. Então todos [Yanomami] ficaram com malária, não conseguiram colher e não conseguiram plantar”, relata.


O Centro de Referência em Saúde atende 10 regiões, com cerca de 120 comunidades Yanomami. Por falta de estrutura, os pacientes que chegam em estado mais grave são levados para os hospitais de Boa Vista.

“Aqui nós temos condições só de estabilização, para manter o paciente grave é difícil. Se não tiver essa equipe de saúde aqui, não tem acesso a outra coisa. Mas essas doenças precisam de medidas químicas e enérgicas para se convalescer e recuperar”, pontua Ana Paula.

Maternidade de lona em Roraima recebe mães e bebês yanomamis
Na capital de Roraima, a reportagem buscou entender a situação dos indígenas que estão fora do território. A equipe visitou as instalações do Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, que é a principal maternidade do estado.

Todos os atendimentos acontecem em uma estrutura provisória de lona, isso porque o prédio oficial da maternidade está em obras há quase três anos e teve atrasos na entrega. Enquanto isso, o antigo hospital de campanha de COVID-19, recebe os pacientes, inclusive mães grávidas e recém-nascidos yanomamis.

Aharon Abaete é coordenador de saúde indígena da maternidade. Ele e a equipe são acionados sempre que uma mulher Yanomami ou recém-nascido dão entrada no hospital. Apesar de saber algumas frases, Aharon não é fluente no dialeto Yanomami e a maternidade não tem um intérprete.

“É importante para poder se comunicar com a paciente, saber se ela está em condições realmente de ir embora, se ela está com dor ainda, se ela sente algum outro problema. Mas, a gente aqui na maternidade tem uma grande problemática porque quando elas não conseguem se comunicar com a gente, elas querem ir embora”, relata Aharon.


Camila, uma mãe Yanomami, segura sua filha recém-nascida nos braços. A criança tem pneumonia e se recupera com antibióticos. Enquanto espera a alta médica da filha, Camila se sente só. “Saudade da minha outra filha… alguém para chorar”, desabafa.

A reportagem procurou a Secretaria de Saúde de Roraima para saber sobre os planos do governo para melhorar o atendimento na maternidade. O secretário adjunto da Saúde, Edson Castro informou que existe um projeto a ser aprovado para que haja a contratação de intérpretes, mas não há um prazo para que isso ocorra.

Ainda de acordo com o secretário, as obras do prédio oficial da maternidade devem ser finalizadas até junho deste ano.

A equipe também conheceu o Hospital Santo Antônio, principal instituição de saúde infantil em Boa Vista. É para lá que são levadas várias crianças yanomamis, que estão com alguma condição de saúde complicada e precisam de tratamento.
Richard Duque, mediador cultural do Médicos Sem Fronteiras, trabalha no local como intérprete. “Minha primeira experiência foi em 1993, quando eu entrei em território a primeira vez e assumi essa postura de porta-voz de alguém que leva a palavra compreensão tanto de um lado do outro”, conta.

Uma mãe Yanomami, acompanhada de seu filho, afirma ter precisado retornar algumas vezes ao hospital após voltar com a criança para a Casai. A instalação abriga indígenas em estado grave que necessitam de tratamento médico em hospitais na capital.

“Eu recebo alta daqui com meu filho, volto para a Casai, que é insalubre, tem doenças lá, o meu filho adoece de novo e tenho que volta para cá. Já tem pelo menos uns 6 meses que estou aqui", relata.

 
Fonte: Profissão Repórter (Rede Globo)
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://peronico.com.br/.
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp