27/04/2024 às 10h26min - Atualizada em 27/04/2024 às 10h26min
Maduro contrata banco para, enfim, renegociar dívida externa de US$ 154 bi da Venezuela, inclusive com o Brasil
Governo define Rotschild como consultor financeiro, no primeiro passo antes de buscar credores. Empreitada deve se arrastar por anos e, segundo analistas, será a mais complexa desde o Iraque em 2003
Depois de anos aos trancos e barrancos, a Venezuela prepara o terreno para uma das maiores e mais complexas reestruturações de dívida em décadas. São US$ 154 bilhões em títulos, empréstimos e passivos jurídicos devidos a credores que vão desde Wall Street até China, Rússia e Brasil.
A contratação do banco de investimento Rothschild como consultor financeiro pelo governo do presidente Nicolás Maduro marca o primeiro passo em uma empreitada gigantesca que provavelmente se arrastará por anos.
Mas é um sinal claro de que Maduro pretende reinserir a Venezuela nos mercados financeiros globais, aproveitando a recuperação econômica do país, após um colapso sem precedentes que durou uma década. A tarefa envolve geopolítica, petróleo e finanças.
— Esta seria a reestruturação mais complexa desde a do Iraque, após a invasão de 2003 — disse Mark Weidemaier, professor de direito da Universidade da Carolina do Norte que estuda contratos de títulos da dívida externa de governos.
Antes mesmo de as negociações com credores poderem começar, os executivos do Rothschild vasculham o mundo opaco dos mercados de dívida para descobrir a quem é devido o quê, de acordo com fontes.
Maduro também precisaria obter alívio das sanções que proíbem a Venezuela de emitir dívida e recuperar o reconhecimento de Washington. Os dois países cortaram relações diplomáticas em 2019 e os EUA não reconhecem Maduro como presidente.
Não foi possível contatar o Rothschild para comentar sobre seu trabalho para a Venezuela. Um assessor de imprensa do governo venezuelano não respondeu a mensagens enviadas pela Bloomberg solicitando comentários.
Títulos valem centavos Os títulos do governo estão sendo negociados em torno 20 centavos por dólar, ante 10 centavos há um ano, e a notas da petrolífera estatal PDVSA são negociadas a cerca de 12 centavos, quatro vezes mais do que há um ano.
Os títulos ganharam um impulso depois que os EUA suspenderam temporariamente restrições à negociação e o JPMorgan traçou um plano para reponderar a dívida da Venezuela em seus índices de mercados emergentes, amplamente seguidos.
— As reestruturações de dívida levam tempo — disse Edward Cowen, CEO da Winterbrook Capital, que detém dívida venezuelana. Mesmo assim, alguns veem um caminho surgindo após a eleição presidencial em julho, em que é quase certo que Maduro vencerá. Se a comunidade internacional considerar a votação justa, Maduro poderá começar a recuperar sua posição no cenário global.
— A probabilidade de um processo de reestruturação da dívida venezuelana a partir de 2025 é maior do que o mercado está precificando ou esperando — disse Alejandro Grisanti, diretor da empresa de consultoria financeira Ecoanalitica, com sede em Caracas.
Uma análise da dívida da Venezuela realizada pelo economista Francisco Rodriguez, professor da Universidade de Denver, mostra uma mistura de títulos, passivos jurídicos e empréstimos bilaterais de países como a China.
Maduro disse repetidamente que está disposto a negociar com os credores e culpa as sanções americanas pela falta de progresso nas conversações.