12/07/2024 às 16h07min - Atualizada em 12/07/2024 às 16h07min
DINHEIRO NA CUECA: Inquérito contra Chico Rodrigues se arrasta no Conselho de Ética do Senado
Novo relator do caso só foi sorteado um ano depois da última reunião do conselho na Casa
Flagrado com dinheiro na cueca em uma operação da Polícia Federal em outubro de 2020, o senador Chico Rodrigues (PSB-RR) é alvo de um processo que se arrasta no Conselho de Ética no Senado e de um inquérito da Polícia Federal que está parado aguardando autorização para dilação de prazo para conclusão. Nesta terça-feira, um novo relator foi escolhido para o processo de Rodrigues no Conselho de Ética: Davi Alcolumbre (União-AP).
Em paralelo, o senador já foi indiciado pela Polícia Federal, em 2021, por peculato, advocacia administrativa, embaraço às investigações e lavagem de dinheiro, por suposta participação em um esquema de desvio de dinheiro que deveria ser usado para o combate à pandemia, mas ainda não houve desfecho no caso.
A investigação foi iniciada em 2020, ano em que a PF deflagrou uma operação contra Rodrigues. Na ocasião, o senador foi pego com R$ 33.150 na cueca. O parlamentar sempre negou irregularidades, afirmou que dinheiro seria usado para pagar funcionários e justificou que escondeu o montante após entrar em pânico. O GLOBO procurou a assessoria do senador, mas não obteve resposta.
Depois que o inquérito foi remetido ao Supremo, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a continuidade das apurações para esclarecimento de pontos da investigação e para algumas oitivas. De lá para cá, a PF fez alguns pedidos de dilação de prazo para a continuidade dos trabalhos investigativos e foi atendida. Na última solicitação, no entanto, a PF ficou sem resposta.
Em agosto do ano passado, a delegada responsável pediu mais tempo, a PGR se manifestou pela concessão de mais 60 dias, mas o Supremo não decidiu. Na época, o presidente Luís Roberto Barroso se manifestou apenas sobre o encaminhamento dos autos para a substituição da relatoria com a aposentadoria de Rosa Weber. Em fevereiro deste ano, o ministro Flávio Dino assumiu a relatoria do caso, mas também não concedeu nenhuma decisão.
Nesta terça-feira, depois que O GLOBO procurou o STF, foi publicado no sistema um despacho pedindo para que a PGR se manifeste sobre o último pedido feito pela defesa do senador, em 10 de junho. Na ocasião, o advogado reiterou outra solicitação que havia sido feita em setembro, afirmando que o senador “está submetido a manifesto constrangimento ilegal, em virtude de excesso de prazo para conclusão do presente inquérito, eis que sua tramitação já perdura por quase 4 anos, extrapolando o limite do razoável”.
Já no Senado, o caso que está no Conselho de Ética foi inicialmente designado para o senador Renan Calheiros (MDB-AL), em junho do ano passado. Ao GLOBO, o senador afirmou que declinou logo em seguida a relatoria. Entretanto, um novo relator só foi sorteado nesta terça-feira, um ano depois da última reunião do conselho. Presidente do órgão colegiado, o senador Jayme Campos (União-MT) afirmou que está seguindo todos os trâmites necessários no conselho.
— Não foi culpa minha essa demora. A advocacia do Senado fez um relatório bem fundamentado, me devolveu e aí eu marquei a reunião do conselho — disse. O relatório da advocacia, no entanto, foi encaminhado em abril do ano passado ao conselho, há mais de um ano e antes da escolha do primeiro relator.
O conselho atua a passos lentos nos casos envolvendo os parlamentares. O último senador punido no Senado foi Delcídio do Amaral (MS), na época já fora do PT. Em 2016, o conselho aprovou parecer pela cassação do parlamentar, e ele perdeu o mandato dias depois. De lá para cá, pouco foi feito. Do fim de 2017 até a presente data, o conselho se reuniu apenas seis vezes e não concluiu a análise de nenhum caso.
O Globo