01/11/2024 às 06h36min - Atualizada em 01/11/2024 às 06h36min

Rios de Roraima estão contaminados por mercúrio do garimpo ilegal na terra indígena Yanomami

Um estudo da ONG WWF-Brasil indica que quatro bacias da Amazônia, onde estão territórios indígenas sob ameaça do garimpo ilegal, apresentam grande risco de contaminação por mercúrio, acima de níveis considerados seguros. Os resultados indicam um "risco extremamente alto" de contaminação em mais da metade das sub-bacias analisadas. A projeção foi feita a partir de um modelo de probabilidade, desenvolvido pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.

Esse modelo usou dados do "Observatório do Mercúrio" sobre a distribuição e acúmulo do metal nas quatro bacias dos rios Tapajós (Pará, Mato Grosso e Amazonas); rio Xingu (Pará e Mato Grosso); e os rios Mucajaí e Uraricoera, esses dois últimos, norte de Roraima, área onde vive o povo yanomami. As concentrações de mercúrio seriam mais baixas nas cabeceiras dos rios e aumentariam ao longo do curso. O mercúrio se acumula na cadeia alimentar, especialmente em peixes consumidos pela população local.

Para Vitor Domingues, analista ambiental e um dos responsáveis pelo estudo da WWF, um dos grandes desafios é a escassez de dados amostrais, por isso a necessidade dos dados serem projetados. O resultado é que a maioria dessas sub-bacias não atenderia aos padrões estabelecidos na legislação ambiental brasileira. O estudo também traz várias recomendações, como a implementação de um monitoramento mais adaptado às condições das diferentes sub-regiões; e a criação de um sistema de informações para apoiar ações governamentais.
 
Avanço do garimpo na Amazônia
De acordo com o MapBiomas , a área de garimpo apenas em territórios indígenas cresceu 265% entre 2017 e 2022, alcançando 25,2 mil hectares, um território maior do que a cidade de Recife. As Terras Indígenas Kayapó (13,7 mil hectares), Munduruku (6,5 mil hectares) e Yanomami (3,3 mil hectares) estão entre os territórios mais afetados.

Por isso, a modelagem focou nas bacias hidrográficas dos Rios Tapajós, Xingu, Rio Mucajaí e Uraricoera, que abrigam os territórios indígenas mais afetados pelo garimpo. Na Terra Indígena Yanomami, sete rios e três afluentes estão contaminados por mercúrio e têm peixes com alto índice de contaminação: rios Parima, Uraricaá, Amajari, Apiaú, Uraricoera, Mucajaí e o Couto de Magalhães, e afluentes Auaris, Trairão e Ereu, na bacia do rio Uraricoera.

Nos últimos anos, estudos vêm apontando o perigo da exposição ao mercúrio em rios e comunidades da Amazônia. Em 2022, um estudo do Laboratório de Epidemiologia Molecular (Lepiomol) da Universidade Federal do Oeste do Pará, em parceria com a Fiocruz e o WWF-Brasil, identificou níveis de mercúrio acima do limite de segurança em 75,6% dos 462 moradores de Santarém (PA) examinados. De acordo com a OMS, o limite máximo da substância no organismo é de 10 microgramas por litro.

Já no ano passado, estudo realizado pela Fiocruz, a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), a Greenpeace Brasil, o Iepé, o Instituto Socioambiental (ISA) e a WWF-Brasil mostrou que 21,3% dos peixes comercializados em 17 cidades de seis estados do Norte brasileiro têm níveis de mercúrio acima dos limites seguros estabelecidos pela OMS e a Anvisa.
 
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