24/05/2023 às 14h27min - Atualizada em 24/05/2023 às 14h27min

Antonio Denarium, Roraima e a “republiqueta de bananas”.

Governador conseguiu eleger a mulher para o TCE e faz manobra para evitar nepotismo.

- Por Expedito Peronnico
Denarium manobrou, elegeu (não nomeou) mas conseguiu que a "esposa" tomasse posse como conslheira do TCE.




Me desculpem a expressão: Roraima foi transformado no curral dos bois do governador. Antonio Olivério Garcia de Almeida, o popular Antonio Denarium, não tem agido como gestor público, mas como chefe de família. Os benefícios oferecidos pelo Estado, para o qual foi eleito governador, não vão para o povo, mas para sua família e grupos de amigos.

O recente episódio da escolha de Simone Soares de Souza, Simone Denarium – detalhe ela não é legalmente esposa do governador, segundo um juiz local – para uma vaga de conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE), é o retrato fiel da desavergonhada política que se pratica aqui ultimamente.

Denarium e suas atitudes rocambolescas causam inveja ao fantástico Odorico Paraguassú – personagem de Paulo Gracindo em sua pilhérica e fictícia Sucurupira.  Pelo menos em “O Bem Amado”, Odorico nos fazia rir. Ao contrário de Denarium, que nos amofina, porque, sinceramente transformou a política de Roraima em roteiro de piadas.

Sua Excelência não entendeu ainda que Roraima não configura na extensão do CNPJ de suas empresas. Ele não é o dono do Estado, mas um mero servidor, ou deveria ser. Não pode esmagar a racionalidade das coisas, empregando o passionalismo a seu bel prazer. A sociedade roraimense – como é lamentável e triste dizer isso – o elegeu seu governador e não seu dono.

O privilégio tributado à Simone Denarium, com vantagens, prerrogativas e regalias, é afrontoso, ofensivo e um insulto ao povo de Roraima. Por que ele não indicou alguém da sociedade? Por que cabe ao Denarium interferir num processo cujas prerrogativas são de direito do Poder Legislativo? Aliás ele nem deveria ter se metido nesse jogo.

Escolher a mulher num contexto puramente político, com aparente base legal, mas de legítima imoralidade, o fez porque a sobreposição de poder numa política decadente como essa que se testemunha hoje em Roraima, uma regressão absoluta e total, o permite. Ficou bem claro que que os fins [ou o fim, com a eleição da mulher] justificaram todos os meios empregados na batalha travada pela vaga no TCE. E no fim ganhou o poder do capital.

Denarium escalou feudatários seus para cuidar da causa da mulher. Descobriu que qualquer iniciativa seria válida, quando objetivo era viabilizar politicamente a “esposa” até ter a segurança de que sua eleição na Assembleia Legislativa estaria garantida com folga. E apesar de ter empurrado a “esposa” para o epicentro da guerra, na última hora, acabou por derrubar a ética, a moral, a transparência, a legalidade, a isonomia, a idoneidade política. Ou seja, para alcançar o objetivo se valeu de características tidas como não “éticas” como a crueldade e a hipocrisia.

Voltando ao princípio desse texto, Denarium não tem sido um bom governo para o povo, tampouco um bom governador para o Estado. Sua gestão vai de mal a pior, pessimamente avaliada, mas Denarium vai escalando o andor como se vivesse no país das maravilhas. Um Estado onde as ações de governo são precárias. Nunca construiu uma sala de aula sequer, as estradas são caóticas, a saúde vive em constante letargia, um pesadelo. A Segurança vive de aparências, apenas com mais giroflexes iluminando as ruas de Boa Vista. Os demais setores do Governo, é bom nem citar, absolutamente esquecidos.

Mas o governador resolveu mudar a ordem das coisas e quando tudo caminhava para uma eleição puramente técnica na Assembleia legislativa. Quando tudo caminhava para a escolha de mais um deputado – como ocorreu das vezes anteriores – para o TCE, Antonio Olivério resolveu intrometer-se. E como interventor, desmontou as candidaturas já anunciadas dentro do processo democrático, atropelou o processo, cooptou deputados e empuxou a “esposa”.

De meras e especulativas articulações, Simone Denarium surgiu num cenário em que dois aliados bem situados na base política do governador já navegavam com certa desenvoltura: Jorge Everton e Regys Freitas. Bastou uma mexida no tabuleiro e Denarium colocou a ‘esposa” na disputa. E acabou por ganhar o jogo, numa manipulação de bastidores que todo mundo em Roraima sabe de ciência própria como funciona.

Denarium foi desleal com o até então aliado Jorge Everton, a quem garantira isenção absoluta na eleição. Mas foi pérfido e traidor ao renegr apoio ao reitor da Universidade Estadual (UER), Regys Freitas, o homem que cuidou junto com o “operador” de Denarium, Disney Mesquita, da campanha da reeleição. Todos sabem, Régys era bem no começo das discussões em torno da vaga, o preferido de Denarium.

E como agravante Denarium encostou a ponta da baioneta nos gorgomilos de deputados aliados – além dos cooptados com benefícios pecuniários – e conseguiu realizar o “sonho” da esposa de ser conselheira do TCE. A mulher, que vai julgar as contas do parceiro, sinceramente não reúne as qualidades técnicas exigíveis para a função. Mas isso são meros detalhes, aliás, ela se autodenominou etiquetada para o cargo assim que foi pronunciado o resultado daquela eleição em que abiscoitou 17 dos 24 deputados estaduais.

A demonstração de que Simone é neófita em questões técnicas e sobre as atribuições de ofício de um conselheiro do TCE, está na primeira entrevista após a vitória. Cercada de jornalistas e sob os holofotes ela disse:

 
“Eu tenho certeza que farei trabalhos extraordinários na Corte. Darei continuidade a políticas públicas sociais voltadas para pessoas com deficiências. Que nem já estão fazendo lá (sic). A gente precisa de representatividade feminina em locais de decisão...”. Chega, basta!

E não contente com todo reboliço causado no curso da campanha até a eleição da “esposa”, depois a nomeação e em seguida a posse – tudo isso feito em 48 horas – veio o “gran finale”. Denarium encerrou a “tragédia grega” metendo os pés pelas mãos. Em uma manobra típica de uma “republiqueta de bananas”, o governador inventou uma viagem para fora do Estado, para ele e para o vice Edilson Damião, possibilitando ao presidente da Assembleia Legislativa assumir o Governo interinamente por dois dias, e por conseguinte, nomear Simone Denarium para evitar assim um delito explícito de nepotismo.

Nesse tempo – entre segunda (22) e esta quarta (24) – Denarium e o vice sumiram, o deputado Sampaio, na qualidade de governador-interino nomeou Simone Denarium e o TCE a empossou. Simples assim. Tudo feito na mais absoluta tranquilidade e transparência, com a devida publicação no Diário Oficial do Estado. Denarium só esqueceu de informar o destino e as razões da viagem, ou seja, foi para um local incerto e não sabido. Quando ao vice, também saiu por aí. Tudo combinado, na mesma data.

E o que tem isso a ver com a “republiqueta das bananas”? Uma semelhança muio próxima. República das Bananas é um termo pejorativo que faz referência a um Estado politicamente instável e dependente de uma economia primária (contra-cheque), comandado por um governo de faz de contas, elitista, dominador e oligarco. Um Estado à beira de um caos político financeiro, onde o governante acha se tratar de um latifúndio pessoal.

A história de Antonio Oliverio Garcia de Almeida, o Antonio Denarium, que deixou a condição da agiota para ser governador de Roraima, certamente será contada futuramente baseada nesse aforismo.

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