É DE RORAIMA: Como o médico Samir Xaud virou candidato único a presidente da CBF

- Por: Uol
19/05/2025 07h20 - Atualizado há 1 dia
É DE RORAIMA: Como o médico Samir Xaud virou candidato único a presidente da CBF
Samir Xaud cercado de presidentes de federação e novos VPs da CBF Imagem: Divulgação/CBF

A pose para foto ao lado de 20 dirigentes no dia do registro da candidatura não foi por acaso. Com Samir Xaud, estavam vários rostos de um movimento que catapultou a candidatura única de um cartola desconhecido.

Vem de Roraima o novo presidente da CBF, a partir da eleição do próximo domingo (25). E a ideia é passar uma mensagem de que não se trata de uma candidatura personalista. Mas um projeto coletivo.

"Eu não falei 'eu quero'. Foram cogitados alguns nomes. E acabou que definiram o meu nome. Então, pelo grupo, pelo projeto, pela proposta, eu topei", disse Samir ao Uol.

A foto que uniu federações, interventor e novos vices foi no gabinete do terceiro andar da sede da entidade que, até quinta-feira passada, era de Ednaldo Rodrigues.

Na noite anterior, alguns até brincavam que já tiveram que esperar longamente na ante sala daquele mesmo gabinete para serem atendidos pelo agora presidente afastado. O diálogo com Ednaldo se deteriorou nos últimos tempos.

Não por acaso, as federações estaduais — protagonistas e donas dos votos de maior peso no pleito — trataram de articular quem seria a figura a se sentar na cadeira mais importante.

A decisão foi por um sujeito de 41 anos. Mais alto, mais forte e mais novo do que quase todos eles. Médico, faixa preta de jiu-jitsu e fã de kart.

O Campeonato Norte Brasileiro de Kart, inclusive, precisou ser riscado da agenda de Samir. As passagens e hospedagem já estavam pagas. O carro dele já tinha sido enviado a Paragominas, no Pará, onde a competição acontecerá (de quinta a sábado). A agenda agora é a CBF.

Tem, sim, uma ideia de banho de loja na entidade. A escolha foi por um dirigente que indique uma mudança de ares — ainda que com o suporte de um sistema já conhecido no futebol brasileiro.

Saiu a figura centralizadora de Ednaldo — que de certa forma "traiu" o movimento que o alçou ao poder, em 2021, e se fechou muito. E a eleição unânime em março para ter mais um mandato? Ilusão.

Sim, de Roraima

Mas por que Samir? Ele não surgiu sozinho no páreo. Tampouco tinha força para ser o grande articulador da própria candidatura. O grupo inicialmente colocou três nomes em pauta. Ricardo Gluck Paul, presidente da Federação do Pará, Luciano Hocsman, da Federação Gaúcha, e Samir Xaud, de Roraima.

O princípio era apostar em uma nova geração de dirigentes. Por essas e outras que Rubens Lopes, da Ferj, não emplacou, por exemplo. O UOL apurou que em Brasília — no bloco do lado político ligado ao IDP de Gilmar Mendes —, a preferência era até pela candidatura de Paul ou de Luciano. Mas não houve imposição. A visão sobre Luciano é que ser do Sul (região com três federações) mobilizaria menos votos.

A saída de Ednaldo

A saída de Ednaldo por decisão da Justiça do Rio uniu várias vertentes. Federações, famílias com influência no Judiciário, classe política e figuras de Brasília que não aparecem tanto. Os clubes, nesse contexto, vieram para cumprir o requisito do estatuto. Eram necessários cinco, no mínimo.

O resultado prático? O apoio formal de 25 federações e dez clubes. Da Série A, cartas de apoio de Palmeiras, Vasco, Grêmio e Botafogo. Da Série B, Remo, Paysandu, Amazonas, CRB, Volta Redonda e Criciúma. Não houve unidade dos clubes na Libra, tampouco na Liga Forte União. Oposição inviabilizada.

Reinaldo Carneiro Bastos, da Federação Paulista, terminou praticamente isolado — considerando os colegas de federações. Entre os clubes, de nada adiantou ter o apoio de 30 deles.

O nome de Samir apareceu de forma concreta já na noite de quinta-feira, no mesmo dia em que Ednaldo foi deposto. Na sexta, a articulação tomou forma. Tanto que à noite, já havia um cenário de união com 22 federações em torno do candidato.

As federações mais engajadas chegaram à conclusão de que Samir seria o melhor nome.

O Norte veio forte. Tanto que Ricardo Paul virou um dos vices na chapa. Mas nada de racha. Houve convergência. Luciano, inclusive, estava com o grupo em um hotel na Barra da Tijuca na noite de sábado, quando se configurou o apoio de 23 federações e dez clubes.

O lado low profile de Samir tem prós e contras, na visão dos dirigentes. De fato, um cartola de Roraima não tem representatividade nacional. Nem presidente de federação ele era — muito embora há alguns anos já representasse o pai, Zeca Xaud, nas reuniões da CBF e fora eleito para comandar o futebol no estado a partir de 2027.

Só que os dirigentes entenderam que Samir, em termos de relação pessoal, seria o menor nome. Em resumo, ele não tem problema com ninguém.

Quem está junto

Uma frase dita nos bastidores é que, no momento, a CBF não precisa de um especialista em Direito, em marketing ou alguém para ficar na cola de Carlo Ancelotti em relação aos nomes que vai convocar. A aposta é em alguém que consiga dar fluência às relações pessoais na CBF — dando espaço para que várias figuras também apareçam.

Na lista de vices, o interventor Fernando Sarney voltará a fazer parte dos Conselhos da Fifa e da Conmebol. As cadeiras estavam com Ednaldo.

Outro vice, Flavio Zveiter tende a ter força para tocar projetos técnicos e estratégicos, como avanço do poder das ligas sobre o Brasileirão e implementação do fair play financeiro.

Ricardo Paul deve tocar a área de marketing e comunicação. A paraibana Michelle Ramalho, inclusive, será a primeira mulher a ocupar uma cadeira de vice-presidente da CBF.

Nesse quebra-cabeça, a chapa preservou três cadeiras que já tinham donos na última eleição de Ednaldo para o mandato que começaria em 2026: Rozenha (presidente da Federação Amazonense), Rubens Angelotti (presidente da Federação de Santa Catarina) e Gustavo Dias Henrique, diretor de relações institucionais com Ednaldo, que tem papel importante na articulação em Brasília.

A eleição será na manhã do próximo domingo (25). Carlo Ancelotti chega na segunda (26). A seleção é só o primeiro item na longa lista de coisas a reestruturar na CBF atual.

 


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