A COLUNA DO PERÔNNICO: O que falta é vergonha na cara!

Poder, Política e Bastidores

- Por Expedito Perrônnico
24/05/2025 07h41 - Atualizado há 23 horas

Uma semana atrás, movido por passionalismo – o averso da racionalidade que exige a política – Antonio Oliverio Garcia de Almeida, o popular Antonio Denarim, canetou uma série de demissões que afetaram secretarias e órgãos de governo, do primeiro ao último escalão.

Teria sido um ato de valentia na tentativa de enquadrar deputados hostis na Assembleia Legislativa, achando que a atitude, que nada traz de benefício para o povo roraimense, abafaria a oposição que o sufoca?.

Não, não foi não. Porque uma semana depois Denarium retrocedeu e na mesma forma coletiva, fez um decretão devolvendo os cargos aos despachados, melhor ainda, promovendo alguns para funções mais valiosas na tentativa de agradar os insurgentes.

O que falta a Denarium e a uma imensa parte dos políticos roraimenses, é o que, na cultura nordestina, é severamente seguido como princípio: ‘vergonha na cara’.

"Falta de Vergonha na cara" é uma expressão idiomática que define o ser humano como fraco, falta de capacidade de autoridade, inconsequente, sem responsabilidade e imoral.

Denarium demitiu auxiliares a rodo. E essas pessoas aceitam ser enxotadas de seus cargos sem prantos e da mesma forma, sem pudor algum, acatam a restituição da migalha. E como num jogo de compadrio todos acabam se dando bem.

Senão vejamos: no dia 15 deste mês, Denarium enxotou um punhado de auxiliares sem dó nem piedade. Na lista de demitidos estavam Vicente Ricarte Bezerra Neto (Presidente da Junta Comercial do Estado de Roraima), Kelton Oliveira Lopes (secretário da Agricultura), Moises Lima da Silva Junior (secretário Adjunto de Agricultura), Ynae Araujo Azevedo Cruz (secretária Adjunta da Secretaria Extraordinário de Atração de Investimentos), Éder Rodrigo Figueira Ribeiro (secretário Adjunto da Saúde), Antônio Diego Parente Aragão (presidente do Detran), Bruno Cesar Cavalcanti Guedes (diretor de Administração e Finanças do DETRAN), José Augusto Arruda de Souza (consultor Técnico I da Secretaria de Educação) e José Rodrigues Sousa (secretário Adjunto de Coordenação dos Colégios Militarizados). Antes havia despachado sem explicações o secretário de Agricultura Márcio Granjeiro.

O desligamento desses servidores – todos apadrinhados – teria causado fúria em seus respectivos protetores, aliados do governador, que logo resistiram e obviamente se assanharam com presumíveis ameaças.

E o que fez Denarium, um governador fraco e despreparado? RECUOU.

Melhor, num gesto de afeição e na tentativa de restabelecer a paz no estado de beligerância criado com a situação, devolveu os demitidos aos seus postos de origem. E até fez promoções.

Então renomeou Márcio Granjeiro para a Agricultura, trazendo de volta Kelton Oliveira Lopes como adjunto que havia sido titular da pasta por 3 dias apenas. Reconduziu Vicente Ricarte Bezerra Neto, à presidência da Junta Comercial. Renomeou Eder Rodrigo Figueira Ribeiro como adjunto da Saúde, que era secretário-adjunto da Saúde.

A Ouvidoria-Geral, antes ocupada por Glicério Fernandes, ex-presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh) foi ocupada por Ynae Araujo Azevedo Cruz, que havia sido demitida da Secretária de Atração de Investimentos, onde ocupava a função de adjunta.

Denarium ainda mexeu na vice-presidência Iteraima. Moisés Lima da Silva Junior, que era adjunto da Agricultura, foi nomeado vice-presidente do instituto de Terras do Estado. E restituiu à Presidência do Detran o advogado e servidor de carreira do órgão, Diego Aragão.

Ele trocou anda o comando da Secretaria de Justiça e Cidadania, nomeando a policial penal Michelly Regina Viau para o cargo e fez uma série de outras alterações – todas em caráter de remanejamento – segundo consta no último Diário Oficial do Estado desta sexta-feira (20), em sua edição N°: 4929.

Foram muitas as mexidas no primeiro, segundo e terceiro escalões e órgãos e departamentos. Um Diário Oficial bem vibrante com 24 decretos de nomeações, exonerações, reconduções, apadrinhamentos e etc.

Mas para que serve tudo isto? PARA NADA. Não vai resultar em melhorias tampouco em benefícios para a população, porque são atitudes politiqueiras que atendem ao interesse pessoal da elite política local.

Esse costume denota que a política em Roraima não evolui, retrocedeu, marchou para trás, diminuiu, em um aspiral de regressão tão absurdo, que deixa clarividente que o comando do ‘estado político’ dormita em mãos erradas.

E nesse jogo de ‘gato e rato’, na ‘volta dos que não foram’, a população roraimense, em grande número dependente do Estado, assiste esse desnodo sem reclamar, contemplando tudo e dormindo em berço esplêndido.

O Governo de Roraima caminha para mais de duas décadas de estagnação, comandado por políticos incapazes e desqualificados, que vivem do que produzimos, sem entregar quase nada em troca. Mas ainda há tempo para reagir.

Basta que o povo daqui se eduque politicamente e pare de aceitar o assistencialismo como ação de governo. O povo tem que exigir reformas, desmascarar os mentirosos, confrontar o populismo e denunciar a corrupção sistêmica. Tem que votar com coragem, com lucidez, com memória.

O futuro de Roraima não será diferente enquanto os roraimenses forem os mesmos. Nada mudará se continuarmos escolhendo esses ‘denarius da vida’ para nos comandar.

E voltando ao início do texto, vergonha é uma das palavras mais pronunciadas em Roraima ultimamente. Não é por excesso. É por falta. Será que somos um povo sem-vergonha? Muitos atestam que o povo tem muita vergonha, mas nossa classe dirigente tem pouca ou nenhuma. Há controvérsias, como sempre. Embora seja costume local atribui-la apenas aos políticos, ninguém pode negar que uma grande parte do povo roraimense adora uma sem-vergonhice.

Todo sem-vergonha teve muitos que votaram nele para que fosse eleito! E eleito quer dizer escolhido! Quem escolheu o sem-vergonha, é sem-vergonha também ou foi enganado? Por isso, é importante o eleitor saber se está bem representado, se soube escolher. Porque depois não adianta se queixar!

Em suma, está na cara que ter vergonha na cara é importante sob qualquer ponto de vista. E é indispensável que os roraimenses que perderam a vergonha – eis aí outra expressão muito interessante – voltem a tê-la. E tê-la na cara!

E desse governo fracassado de quase 6 anos que só distribui miséria – cesta básica nos grotões do interior e cargo comissionado entre a elite urbana – não esperem mudanças ou melhorias. Seria uma ingenuidade atroz.


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