Menos de um ano depois da farsa eleitoral que manteve o ditador Nicolás Maduro no poder, a Venezuela realiza neste domingo (25), novas votações para eleger governadores, deputados da Assembleia Nacional e legisladores regionais. O pleito ocorre em meio a um amplo boicote da oposição, denúncias de fraude e nova escalada de tensões com a Guiana.
O governo de Nicolás Maduro tenta consolidar o controle sobre 24 governos estaduais, 277 cadeiras da Assembleia e 260 postos legislativos regionais. O processo eleitoral, no entanto, é amplamente questionado. As principais lideranças opositoras, como María Corina Machado e Edmundo González Urrutia, pedem boicote e classificam a votação como uma “farsa”.
A Plataforma Unitária Democrática (PUD), principal coalizão da oposição, não apresentou candidatos e afirmou em nota que o país vive uma “destruição da rota eleitoral”. O grupo cobra garantias básicas, como o fim da perseguição política, da intervenção partidária e dos impedimentos a candidaturas.
Oposição dividida
Apesar do boicote promovido pela PUD, setores opositores decidiram participar do pleito. Entre os dissidentes estão os ex-candidatos presidenciais Manuel Rosales e Henrique Capriles, este último concorrendo a uma vaga na Assembleia Nacional. A adesão de ambos gerou críticas de outros opositores, e duas organizações foram expulsas da coalizão.
Julio Borges, um dos líderes da oposição, afirma que o governo tenta apagar a “vitória milagrosa” da oposição nas eleições de julho de 2024. Segundo ele, a abstenção tornou-se uma forma de resistência diante de um regime que repete o modelo repressivo cubano.
“É um roteiro articulado: radicalização, prisões como moeda de troca, tentativa de reabrir negociações para ganhar tempo e sobreviver”, disse.
Controle do chavismo
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), dominado pelo chavismo, voltou a organizar o processo sem apresentar garantias de transparência.
A atuação do órgão foi amplamente questionada na eleição presidencial de 2024, quando declarou vitória de Maduro com 51% dos votos, sem divulgar as atas. A oposição, por sua vez, afirma que Edmundo González venceu com 67%.
Organizações internacionais como o Carter Center relataram graves irregularidades e afirmaram não haver elementos para confirmar a vitória de Maduro.
Repressão e prisões
Às vésperas da votação, o governo anunciou a prisão de cerca de 50 pessoas — algumas estrangeiras — por suposta conspiração.
Entre os detidos estão aliados de María Corina Machado e o opositor Juan Pablo Guanipa, sequestrado na sexta-feira, segundo denúncias.
Tensão com a Guiana
O regime também aproveita a eleição para aumentar a tensão com a Guiana. Estão previstas votações no estado de Bolívar para escolher autoridades no território de Essequibo, área disputada entre os dois países.
O CNE instalou 12 centros de votação com cerca de 21 mil eleitores registrados para escolher um governador e deputados para a região, apesar de a Corte Internacional de Justiça ter ordenado que a Venezuela se abstenha de qualquer ação no território.
Em dezembro de 2023, o governo venezuelano promoveu um plebiscito sobre a anexação de Essequibo. Segundo dados oficiais, 96% dos votantes apoiaram a medida, embora o resultado não tenha sido reconhecido internacionalmente. O Parlamento chegou a declarar a criação de um novo estado venezuelano na região, o 24º do país.