O senador Chico Rodrigues (PSB), nacionalmente conhecido pelo episódio em que foi encontrado com R$ 33 mil em dinheiro na cueca durante a Operação da Polícia Federal em outubro de 2020, passou a ocupar posição de destaque na Frente Parlamentar em Defesa do Empreendedorismo Rural.
Atualmente vice-presidente desse colegiado, Rodrigues mantém vínculo direto com a Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer) – entidade alvo da “Operação Sem Desconto”, deflagrada pela Polícia Federal em 23 de abril de 2025 para investigar fraudes nos descontos aplicados sobre benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) .
Segundo informações oficiais da PF, a Conafer teria efetuado descontos de forma irregular em aposentadorias, pensões e auxílios do INSS, configurando um suposto desvio de recursos que pode ultrapassar R$ 4 bilhões entre 2019 e 2024 . A investigação, denominada “Operação Sem Desconto”, cumpriu 211 mandados de busca e apreensão em 13 estados e no Distrito Federal, apreendeu mais de R$ 1,7 milhão em dinheiro, além de joias e veículos de luxo vinculados aos principais suspeitos. Entre os nomes sob apuração, destacam-se empresários como Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, apontado pela PF como o suposto “ombro amigo” das associações que firmaram acordos de cooperação técnica com o órgão previdenciário .
Conforme levantamento do Jornal Nacional e de reportagens especializadas, a Conafer chegou a movimentar cifras extraordinárias em descontos de aposentados nos últimos anos. Em 2023, entidades vinculadas à fraude teriam arrecadado aproximadamente R$ 91 milhões apenas com contribuições de associados, um salto considerável em relação aos R$ 14,9 milhões registrados em 2022 . Além disso, os documentos obtidos pela PF indicam que o instituto chegou a autorizar, de modo irregular, a continuidade dos descontos mesmo após mudanças na norma que limitava a 1 % do valor do benefício o montante deduzido pela associação .
Ao assumir a vice-presidência da frente parlamentar, Chico Rodrigues passou a presidir reuniões que têm por objetivo a defesa das atividades da Conafer junto ao Congresso Nacional. Fontes parlamentares confirmam que, durante encontros ocorridos nos meses de abril e maio de 2025, Rodrigues despachou diretamente com representantes da confederação e articulou a tramitação de projetos de lei que mantêm a autonomia das associações para efetuar descontos em folha, mesmo diante das normas mais rígidas estabelecidas pelo INSS em 2024 .
A atuação de Chico Rodrigues em defesa da Conafer, num cenário em que o órgão previdenciário público demonstrou preocupação com a proteção de 4 milhões de beneficiários potencialmente lesados, suscita críticas de especialistas em direito previdenciário e controle social. O advogado previdenciarista Marco Túlio de Souza avalia que “a manutenção de acordos de cooperação técnica com entidades sob investigação compromete a credibilidade do INSS e expõe aposentados a descontos não autorizados” . Essa situação coloca no centro do debate a necessidade de ajustes regulatórios para impedir que associações sem fiscalização adequada continuem a repercutir impactos financeiros graves na renda de aposentados.
Além disso, deputados de oposição aproveitaram a repercussão para pedir a instalação de uma CPI mista, incluindo Câmara e Senado, que investigue não apenas as fraudes no INSS, mas também eventuais interferências políticas na manutenção de contratos com entidades acusadas. Parlamentares do PDT e do PSOL divulgaram nota conjunta em 30 de maio de 2025, argumentando que “há indícios de favorecimento político e blindagem de pessoas envolvidas em esquemas de corrupção dentro do sistema de descontos do INSS” . Até o momento, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, não sinalizou apoio à criação da comissão parlamentar, o que agrava as suspeitas sobre possíveis acordos internos para frear investigações mais amplas.
Em resposta aos questionamentos, a assessoria de Chico Rodrigues enviou nota oficial afirmando que “o senador atua de forma legal e transparente para defender os interesses dos agricultores familiares, sem nenhum envolvimento direto em qualquer irregularidade. A Conafer presta serviços essenciais ao setor rural e cumpre todos os requisitos definidos pelo INSS” . Contudo, documentos da Polícia Federal indicam que a Conafer permanece na lista de entidades suspeitas de fraudes na “Operação Sem Desconto”, o que mantém aberta a linha de investigação para possíveis indícios de participação política no esquema .
