Apesar do aumento expressivo de verbas nos últimos anos, apenas três estados brasileiros divulgam integralmente informações sobre emendas estaduais. São eles Acre, Distrito Federal e Minas Gerais. É o que mostra a nova rodada do Índice de Transparência e Governança Pública (ITGP), divulgado nesta terça-feira. No caso da transparência de obras públicas, somente dois estados, Ceará e Goiás, possuem plataformas com informações completas sobre as execuções física e financeira desses projetos.
O levantamento produzido pela Transparência Internacional – Brasil avaliou os 26 governos estaduais e a gestão no Distrito Federal e revelou o que chamam de “falhas graves” no campo. Para a ONG, os gargalos denunciados “se tornam ainda mais relevantes diante das recentes tentativas no Congresso Nacional de dificultar investigações contra parlamentares, inclusive sobre desvios de recursos de emendas”.
Os pesquisadores adotaram 106 critérios de transparência e atribuíram notas entre zero e 100 aos estados avaliados. Os entes federativos foram classificados em cinco faixas a partir dos valores que foram atribuídos. As categorias são “ótimo” (80-100 pontos), “bom” (60-79,9), “regular” (40-59,9), “ruim” (20-39,9) e “péssimo” (0-19,9).
A média nacional no índice de 2025 foi de 68,8 pontos, estando na categoria “bom”. Os estados melhores colocados são Espírito Santo (95), Goiás (93), Minas Gerais (89), Ceará (89), Distrito Federal (85) e Alagoas (81) — todos classificados como “ótimo”. São Paulo aparece na décima posição com 76 pontos e o Rio de Janeiro ocupa o décimo sétimo lugar no ranking, com 64 pontos, ambos na categoria “bom”.
Índice nos estados — Foto: Reprodução/Transparência Internacional
— Apesar de decisões importantes do STF que buscam promover a transparência e a rastreabilidade, de forma geral os Estados ainda falham em garantir a ampla disponibilização de informações sobre as emendas parlamentares federais. O problema também se repete no caso das emendas estaduais, cujo volume de recursos e número de Estados com esse tipo de instrumento têm crescido nos últimos anos — avalia Renato Morgado, gerente de programas da Transparência Internacional - Brasil.
Para Morgado, déficits de transparência nas emendas, somados à criação de obstáculos para investigações e processos contra parlamentares — como no caso da proposta da PEC da Blindagem — "podem gerar o cenário perfeito para a prática de corrupção".
— Se a falta de informação dificulta a detecção de desvios, mesmo quando estes forem identificados ainda persistirão barreiras para sua responsabilização — aponta.
Avaliação por categoria
Além da avaliação geral, os dados da Transparência Internacional mostram a avaliação dos estados em oito dimensões:
Plataformas
Transformação Digital e Comunicação
Dados
Administração e Governança
Legal
Transparência Financeira e Orçamentária
Obras Públicas
Participação
Falha na garantia de transparência
O relatório apontam também outros "problemas" de transparência identificados por meio do índice:
Comparação com 2022
O relatório deste ano foi a segunda vez em que a ONG mediu o índice. A primeira pesquisa foi realizada em 2022, quando foram apurados 84 mecanismos e práticas de transparência. A diferença no total de critérios (em 2025 foram 106) torna a comparação dos resultados das duas rodadas "parcial", segundo a Transparência Internacional.
Em relação aos 47 critérios avaliados em 2022 e que foram mantidos iguais na atual avaliação, a ONG identificou uma melhora em 30 indicadores, "o que significa que houve um aprimoramento de determinada política ou prática, quando considerado o conjunto dos Estados". Foi o que ocorreu, por exemplo, em relação às informações sobre incentivos fiscais concedidos pela gestão estadual, passando de 10 para 22 estados em cinco anos.
Melhorias também foram identificadas:
A ONG destaca que, mesmo com esses avanços, nenhum dos temas em que houve melhoria é atendido integralmente por todos os estados.
Os dados que embasam o índice foram coletados pela ONG em sites oficiais e redes sociais dos estados. De acordo com a metodologia desenvolvida pela Transparência Internacional–Brasil, os próprios governos avaliados receberam uma cópia de sua avaliação preliminar e puderam contestar o levantamento ou promover mudanças imediatas.
O relatório aposta que, nessa fase, 26 governos estaduais enviaram pedidos de revisão da avaliação e, juntos, realizaram 490 melhorias, como, por exemplo, a publicação de informações sobre eventuais acordos de leniência celebrados pelo Estado (14 estados disponibilizaram informações após receberem a avaliação) e a criação de canal para que cidadãos possam solicitar novas bases de dados públicas (melhoria realizada por oito estados).