17/01/2024 às 07h53min - Atualizada em 17/01/2024 às 07h53min

Ministério dos Povos Índigenas fica sob críticas após volta do garimpo à Terra Yanomami em Roraima

Volta do garimpo e mortes no território suscitam questionamentos acerca do trabalho empenhado pela pasta comandada por Sonia Guajajara

Segundo o Governo os garimpeiros estão retornando á terra Yanomami em Roraima e promete agir. Foto: Uol
Um ano após o governo federal iniciar uma operação de ajuda humanitária e combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami em Roraima, criminosos ainda ameaçam 31 mil indígenas que vivem no local.

Os garimpeiros adaptaram suas ações para escapar da fiscalização e voltaram à reserva no segundo semestre. O resultado foi a manutenção de um patamar alto de mortes dos ianomâmis. As 343 mortes em 2022 caíram para 308 no ano passado, mas a diminuição representou uma variação de apenas 10%, o que suscitou críticas de especialistas e indígenas.

Para Estevão Senra, pesquisador do Instituto Socioambiental, a falta de coordenação central foi decisiva para a queda dos resultados no segundo semestre. O governo falhou em não garantir até o fim do ano os bloqueios de trânsito fluvial e o controle aéreo e em não fazer todas as ações sociais posteriores às remoções de garimpeiros, avalia.

Os dados não mostram resultado efetivo no controle da malária, o que deveria ser prioridade — disse Senra, que também critica o planejamento falho na distribuição das cestas básicas. — Não houve priorização para as comunidades mais necessitadas. A logística entre a Funai (Fundação Nacional do Povos Indígenas) e os militares não funcionou bem.

A promessa era a cessão de 12,6 mil cestas básicas por mês, o que daria 151 mil no total, mas a última atualização aponta a entrega de 58,4 mil no ano. As cestas pararam de ser distribuídas em julho, segundo Junior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e da Urihi Associação Yanomami. A Funai estuda contratar empresas privadas para a distribuição.
Segundo Junior Hekurari, das 376 comunidades, cerca de 60 ainda convivem com garimpeiros. Nesses locais, as equipes de saúde não conseguem prestar os atendimentos.

A malária está acontecendo até onde não havia registros — afirmou Junior, que diz que as mortes se concentram nas comunidades onde o estado não chegou. — Eles têm muitos recursos, vêm de helicópteros e têm armas pesadas. Em algumas comunidades vimos as crianças voltando a brincar. Mas em muitas outras, mães têm medo de nomear recém-nascidos, porque há risco de não sobreviverem por causa da desnutrição.

Mais investimento
Procurado, o Ministério da Saúde informou que investiu R$ 220 milhões, 122% a mais que no ano passado, e 21 mil atendimentos foram feitos, numa mobilização de 960 profissionais — aumento de 40% da força de trabalho. Sete polos base e unidades de saúde foram reabertos, 307 crianças com desnutrição grave foram atendidas e o Mais Médicos aumentou de nove para 28 os médicos no território, acrescentou.

O Ministério do Meio Ambiente informou que as áreas de mineração ilegal foram reduzidas em 85%. Contratos estão sendo feitos para ampliar o número de aeronaves de cinco para 11, afirmou a pasta. A Funai e o Exército não responderam aos questionamentos.

Mudança de estratégia
Outras emergências ambientais, como o fogo no Pantanal, fizeram a equipe do Ibama na terra ianomâmi ser deslocada. Em dezembro, quando a equipe voltou, constatou um cenário diferente. Os garimpos foram reativados nas terras já devastadas, evitando novos alertas de desmate. O combustível próprio para aviação, que havia sido bloqueado nas operações, foi substituído por gasolina aditivada, o que exigiu a modificação dos carburadores das aeronaves, que agora ficam na Venezuela para fugir da fiscalização.

 
Os aviões saem às 5h30m da Venezuela, vão aos garimpos buscar os minérios, pousam em pistas próximas à Boa Vista para descarregar e pegar mais suprimento, voltam ao garimpo e depois para a Venezuela, onde pernoitam. Todas as ações na pista duram de 6 a 10 minutos. Assim não são surpreendidos pelos nossos helicópteros — explicou Hugo Loss, coordenador de operações de fiscalização do Ibama.

Segundo Loss, traficantes de drogas também atuam nos garimpos, onde vendem maconha, cocaína e crack. O consumo nos garimpos, diz ele, é muito alto.

Os garimpeiros contam com a vantagem no uso da internet, que equipes do Ibama não têm. A Polícia Federal e o Ibama vêm apreendendo diversas antenas da Starlink, sistema em que o empresário Elon Musk investiu na Amazônia.

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