Dados divulgados nesta quarta-feira (28) pelo serviço climatológico europeu Copernicus mostram que as emissões de CO2 por queimadas em Roraima atingiram o nível mais alto para fevereiro em 22 anos. Estima-se que até o dia 27 o fogo no estado jogou na atmosfera 2,3 megatoneladas de CO2, o que representa mais da metade do total emitido pelo país inteiro em queimadas (4,1 megatoneladas) no mesmo período.
Os focos de fogo de fevereiro em Roraima somavam 2.001 até terça-feira (27), um número 12 vezes maior do que o registrado no mesmo mês em 2023. Os dados disponibilizados pelo INPE apontam que este é o pior fevereiro desde 1999, primeiro ano completo da série histórica de monitoramento iniciada no segundo semestre de 1998. A primeira posição para o mês era de 2007, quando 1.347 focos foram registrados. Em comparação com todos os meses do ano, fevereiro de 2023 fica atrás apenas de março de 2019, que teve 2.433 focos. Os incêndios atuais já atingiram Terras Indígenas, como a Yanomami.
O estado já apresentava uma tendência de aumento de queimadas desde agosto do ano passado em comparação com períodos anteriores. Agosto, setembro, outubro e novembro de 2023, por exemplo, tiveram os piores registros para cada mês. Dezembro e janeiro de 2024 não registraram os maiores números em comparação com o mesmo período de outros anos, mas ficaram acima da média.
O caso de Roraima faz com que toda a Amazônia brasileira também tenha o pior fevereiro. O número total de focos no bioma alcançou 2.940. O fevereiro que ocupava a primeira posição era o de 2007 com 1.761 focos de incêndios em toda a Amazônia brasileira.
Ane de Alencar, diretora de ciência do IPAM, explica que a temporada de queimadas em Roraima é no começo do ano. Porém, o atual crescimento dos números é anormal. “A tendência dos focos, não só do Brasil, mas de outros países como Colômbia, Venezuela, aumentou bastante neste período. Tudo leva a crer que essa anomalia é por conta do clima”, diz.
A Venezuela, por exemplo, é a líder de queimadas na América do Sul em fevereiro. Segundo o Copernicus, os incêndios florestais na Venezuela já emitiram 5,2 megatoneladas de CO2 neste mês. A Colômbia pediu ajuda internacional para combater os incêndios florestais em janeiro. A floresta Amazônica está presente nos dois países.
Estudos recentes já mostram que, além do fenômeno El Niño, as mudanças climáticas intensificaram as temperaturas e a estiagem na América do Sul. No ano passado, comunidades na Amazônia brasileira ficaram isoladas por causa da seca dos rios. Os incêndios no Chile também foram intensificados pela anomalia do clima.
Ane de Alencar explica que a sequidão contribui para o alastramento do fogo. “Os incêndios acontecem com base em três fatores. O primeiro é que precisa ter o que queimar, o material combustível. O segundo é que precisa ter um clima favorável para que aquele fogo se espalhe. E o terceiro é quem inicia esse fogo”, comenta. “Se tem mais chuva, o fogo tem mais dificuldade em avançar”, completa. Roraima tem nove municípios em estado de emergência por causa da seca severa.