Na primeira sessão ordinária de 2025, realizada nesta quarta-feira (19), o deputado Jorge Everton (União), primeiro-vice-presidente da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), cobrou maior atuação da Casa e de órgãos fiscalizadores diante das denúncias de irregularidades na Saúde estadual, que, segundo ele, têm resultado na morte de pacientes.
O parlamentar citou como exemplo o caso de Maria Conceição Arruda, que faleceu no Hospital Geral de Roraima (HGR) após 19 dias de internação. Moradora de Mucajaí, ela aguardava por uma cirurgia cardíaca e um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), mas morreu após contrair uma infecção hospitalar.
“E não foi por falta de esforço. Entrei em contato com o secretário da Casa Civil, Flamarion [Portela], passei todas as informações e clamei: ‘Isso é uma questão de humanidade’. A deputada Joilma [Teodora] também se sensibilizou, foi ao hospital, conversou com a equipe médica e exigiu providências. Mesmo assim, nada foi feito”, lamentou.
Everton reforçou que a crise na saúde pública exige uma solução urgente e convocou os colegas para atuar de forma conjunta. “Não podem alegar desconhecimento do caso. A Casa Civil, o governador e a secretária de Saúde sabiam da situação. Ela morreu por omissão”, denunciou.
Crise na Saúde e novas denúncias
O discurso do deputado ocorreu em meio a novas denúncias contra a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) e sua titular, Cecília Lorenzon. “Hoje, na reunião da Comissão de Saúde, um promotor nos procurou porque não aguenta mais a situação calamitosa da saúde. Já ingressou com várias ações, mas nada foi resolvido”, relatou Everton.
Ele também criticou a falta de transparência na gestão da pasta. “Nos últimos anos, a Sesau não entregou os relatórios quadrimestrais obrigatórios à ALE-RR. A secretária usa artifícios para benefício próprio e aumento de patrimônio, enquanto a população segue sem assistência adequada”, afirmou.
Outro problema apontado foi a interrupção do serviço de hemodiálise para pacientes renais, já que a clínica responsável não recebe pagamento desde 2023. “A fila para cirurgias só cresce, contratos são firmados sem retorno à população e médicos qualificados deixam o Estado. Representei junto à Comissão para convocar os responsáveis, desde o secretário Flamarion até a médica que não realizou a cirurgia da paciente Maria da Conceição”, acrescentou.
Parlamentares apoiam investigações
O deputado Gabriel Picanço (Republicanos) manifestou apoio ao colega e destacou novos casos de negligência. “Ontem, em Santa Maria do Boiaçu, uma pessoa morreu porque o socorro aéreo não chegou a tempo. Precisamos levar essa situação ao Ministério Público”, cobrou.
Picanço também criticou o impacto da extinção da Representação do Governo em Manaus sobre os pacientes do TFD (Tratamento Fora de Domicílio). “O local oferecia suporte a quem buscava tratamento fora do Estado, especialmente para pacientes com câncer. Agora, eles ficaram desassistidos”, lamentou.
O presidente da Comissão de Saúde, deputado Dr. Cláudio Cirurgião (União), classificou a situação como “caótica” e denunciou a precariedade enfrentada por pacientes e profissionais da área. “Relatórios são entregues ao governador sem mudanças efetivas. No HGR, há pacientes aguardando cirurgia ortopédica desde o dia 27. Se o problema era a falta de ortopedistas e contrataram uma empresa fraudulenta, por que ainda há pessoas na fila?”, questionou.
Além disso, citou a falta de alimentação adequada nos hospitais, escassez de insumos e reagentes no Hemocentro de Roraima (Hemoraima) e irregularidades no atendimento de hemodiálise. “Vimos relatos alarmantes de pacientes colocados em ambientes com pessoas com sorologia positiva para HIV e hepatite, um risco de contaminação. Além disso, reduziram o tempo das sessões pela metade para atender a todos”, afirmou.
Cirurgião ainda acusou a secretária de Saúde de atrasar pagamentos e desrespeitar compromissos com os profissionais. “Os médicos estão sendo ameaçados e deixando o Estado. A Assembleia precisa agir. A situação exige uma ação conjunta com o Ministério Público, pois já tentamos dialogar com o governador, e nada foi resolvido”, enfatizou.
O deputado Marcinho Belota (PRTB), da base governista, reconheceu a gravidade do problema e disse estar empenhado em buscar melhorias. Após visitar o Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth no dia 23 de janeiro, ele descreveu a realidade do sistema público de forma oposta ao discurso oficial do governo. “A população está cada dia pior”, afirmou.
Belota sugeriu aprofundar as investigações. “Temos material suficiente para abrir uma CPI. Quantas vidas mais serão perdidas por incompetência na gestão da saúde?”, questionou.
Denúncias de irregularidades em outras áreas
Além da saúde, Jorge Everton denunciou irregularidades em outras áreas e defendeu a abertura de CPIs na Casa. Um dos casos envolve a crise financeira do município de São Luiz do Anauá.
“Um município pobre foi saqueado pela gestão anterior. Recursos estaduais foram retirados das contas e não destinados a obras. O dinheiro sumiu”, afirmou, referindo-se ao ex-prefeito James Batista, que, segundo ele, usava "laranjas" para desviar recursos.
Outra denúncia envolve a presidente do Iteraima (Instituto de Terras de Roraima), Dilma Costa, por suposta participação em um esquema de grilagem de terras. “Recebi informações de que ela autorizou, via memorando, a dispensa do georreferenciamento sobre uma ocupação ilegal, favorecendo um advogado ligado a grilagens”, revelou Everton.