O fiasco das eleições legislativas da ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela

Tão poucas pessoas votaram e o regime ficou numa situação tão desfavorável que Maduro agora diz que quer mudar a Constituição

04/06/2025 10h51 - Atualizado há 2 dias

Após o fiasco das eleições legislativas venezuelanas de 25 de maio, que foram boicotadas pela oposição e tiveram participação mínima da população, o ditador Nicolás Maduro provavelmente deixará de realizar eleições com alguma mínima pretensão de normalidade democrática.

Tão poucas pessoas votaram e o regime ficou numa situação tão desfavorável que Maduro agora diz que quer mudar a Constituição e realizar no futuro eleições sob um sistema eleitoral de “circuito comunal”. É claro que isso lhe garantiria, como em Cuba, vitórias automáticas.

A líder opositora María Corina Machado me disse em entrevista em 26 de maio que as eleições legislativas foram uma “derrota monumental” para Maduro, porque uma esmagadora maioria dos venezuelanos atendeu ao apelo da oposição para boicotar a votação.

“Foi a menor participação da história da Venezuela”, disse-me Machado. “Ninguém foi votar.”O regime de Maduro afirmou que a participação eleitoral foi de 43%, mas Machado me disse que foi de apenas 12%.

Tudo indica que a estimativa de Machado está mais próxima da realidade. A empresa de pesquisas Meganalisis estimou a participação em 14%. A revista The Economist noticiou que “a participação eleitoral foi lamentável. As seções eleitorais estavam desertas”.

Machado me disse que a oposição tem cerca de 10 mil fotos e vídeos feitos naquele dia nas seções eleitorais mostrando os locais praticamente vazios. Como esperado, Maduro conquistou uma vitória retumbante. De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral, controlado pelo governo, o partido de Maduro ganhou 83% dos assentos parlamentares e 23 dos 24 governos estaduais.

Nas eleições presidenciais de 28 de julho do ano passado, das quais Machado e outras figuras importantes da oposição foram banidas, Maduro reivindicou a vitória apesar de as atas de votação mostrarem que o candidato da oposição, Edmundo González, tinha vencido com 67% dos votos.

Quando perguntei a Machado por que Maduro ainda se preocupa em realizar eleições, visto que quase ninguém leva os processos eleitorais venezuelanos a sério, ela respondeu que o regime não esperava que tão poucas pessoas fossem votar.

“Eles achavam que o povo não se rebelaria dessa forma”, disse-me Machado. “Achavam que poderiam forçar os funcionários públicos, como fizeram em outras ocasiões, e criar a ilusão de que 30% ou 40% da população tinha votado.”

Até aqui, Maduro tem procurado simular uma certa normalidade democrática para não perder o reconhecimento do Brasil e de outros países. Mas após a baixíssima participação eleitoral em 25 de maio, ele passou a afirmar que mudará a Constituição para reformar o sistema eleitoral.

“A Venezuela precisa” criar “um novo sistema eleitoral”, disse Maduro na tarde de 25 de maio. Ele acrescentou que “o sistema eleitoral dos circuitos comunais deve ser estabelecido como um novo sistema de consulta permanente”. Ele não deu mais detalhes, mas parecia estar propondo um sistema de plebiscitos controlados pelo governo.

Eu não ficaria surpreso se Maduro fosse adiante com esse plano, porque suas farsas eleitorais são tão grosseiras que nem mesmo governos democráticos de esquerda conseguem aceitá-las. E o fato de Maduro não conseguir nem sequer que os funcionários públicos venezuelanos compareçam às urnas o faz parecer fraco em seu próprio país.

Além disso, Maduro provavelmente precisará aumentar seu controle político, pois o descontentamento público aumentará. A economia venezuelana está em queda livre. O crescimento econômico deve cair entre 1,5% e 4% este ano, devido aos baixos preços globais do petróleo e à decisão dos Estados Unidos de suspender a licença da Chevron para exportar petróleo da Venezuela.

A inflação anual já ultrapassa 100% e o salário mínimo oficial, sem bônus, é de apenas US$ 1,50 por mês. Para piorar a situação de Maduro, a Rússia e a China não estão mais lhe garantindo os mesmos empréstimos de antes, e os EUA estão fechando as portas para a imigração de venezuelanos.

Em suma, as eleições legislativas foram uma vitória pírrica para Maduro. Agora ele terá mais legisladores e mais governadores, mas estará ainda mais isolado do restante do mundo e de seu próprio povo, em um contexto econômico cada vez pior para ele. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Fonte: Estadão Conteúdos


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