Maduro em alerta: Frota naval americana faz Venezuela temer interceptação e ataque cirúrgico

Analistas com acesso ao Palácio Miraflores avaliam que risco de invasão é baixo, mas não se descartam outras possibilidades

- Fonte: O Globo
22/08/2025 06h29 - Atualizado há 11 horas

O ditador Nicolás Maduro diz ter "nervos de aço" para enfrentar um momento considerado crítico: a aproximação de uma frota naval militar americana da costa venezuelana sob a justificativa de combate ao narcotráfico. Mas a operação militar vem estimulando a elaboração de cenários dentro da Venezuela se, em algum momento, houver uma escalada do que hoje é visto como uma mostra de força composta por 4,5 mil marinheiros e fuzileiros, três navios de assalto anfíbio, três contratorpedeiros, um submarino de ataque nuclear, aeronaves P-8 Poseidon e outros meios de vigilância.

Apesar de relatórios encomendados pelo setor privado e analistas com acesso ao Palácio Miraflores avaliarem que o risco de invasão é "baixo", não se descartam outras possibilidades. Entre elas, a violação do espaço aéreo e marítimo venezuelano; a intercepção de embarcações em mares territoriais venezuelanos; ataques rápidos e fulminantes, por exemplo, a bases da Força Aérea, vista como a mais sólida da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB); ou uma ação cirúrgica contra algum membro do regime.

Operação Gedeon

Segundo uma das fontes consultados pelo GLOBO, que falaram sob condição de anonimato pela sensibilidade do tema, um dos cenários considerados é de "um ataque rápido e fulminante, como os EUA fizeram com o Irã há pouco tempo", em referência ao general iraniano Qassem Soleimani, comandante da Força Quds da Guarda Revolucionária, assassinado em 2020 em um ataque com drone americano no Iraque.

Outro fato histórico lembrado pelos analistas é a invasão ao Panamá, conhecida como Operação Just Cause, que aconteceu entre 20 de dezembro de 1989 e 31 de janeiro de 1990 durante o governo do presidente George H. W. Bush (1989-1993). O objetivo principal da invasão foi capturar o ditador panamenho Manuel Noriega, que era comandante das Forças de Defesa do Panamá e acusado pelos EUA de tráfico de drogas e envolvimento com o crime organizado.

Em seu livro de memórias, o ex-secretário da Defesa dos EUA Mark Esper deixa claro que, em seu primeiro mandato (2017-2021), o presidente Donald Trump tinha planos ousados sobre a Venezuela que não prosperaram por resistências no Pentágono e nas Forças Armadas americanas. Hoje, afirmam analistas venezuelanos que acompanham de perto a relação bilateral, "o cenário é bastante mais favorável às ideias de Trump".

Montagem com os presidentes da Venezuela (E), Nicolás Maduro, e dos EUA, Donald Trump — Foto: Pedro MATTEY / AFP e Jim WATSON / AFP
Montagem com os presidentes da Venezuela (E), Nicolás Maduro, e dos EUA, Donald Trump — Foto: Pedro MATTEY / AFP e Jim WATSON / AFP
Montagem com os presidentes da Venezuela (E), Nicolás Maduro, e dos EUA, Donald Trump — Foto: Pedro MATTEY / AFP e Jim WATSON / AFP

 Em julho do ano passado, um ex-alto funcionário do governo Joe Biden disse em uma reunião em Bogotá, confirmou uma das pessoas presentes no encontro, que o hoje secretário de Estado americano Marco Rubio tem em mente promover algum tipo de intervenção nos moldes da chamada Operação Gedeon, uma tentativa fracassada de invasão marítima à Venezuela, em maio de 2020. A operação foi coordenada por um grupo de militares dissidentes venezuelanos exilados na Colômbia e por três integrantes de uma força de segurança privada dos EUA.

— A ideia, segundo comentou o ex-funcionário do governo Biden que continua tendo acesso a altas fontes americanas, é voltar a contar com a colaboração de paramilitares americanos — comentou a fonte.

Ontem confirmou-se que o Grupo Anfíbio de Prontidão Iwo Jima dos EUA — embarcado nos navios de assalto anfíbio USS Iwo Jima (LHD-7), USS Fort Lauderdale (LPD-28) e USS San Antonio (LPD-17) — precisou suspender suas atividades e retornar à base naval em Norfolk, na Virgínia, devido aos riscos meteorológicos provocados pelo furacão Erin. Não está claro se os contratorpedeiros USS Gravely, USS Jason Dunham e USS Sampson, equipados com o sistema Aegis de mísseis guiado, também tiveram de recuar, assim como os outros dispositivos que compõem a missão, prevista inicialmente para chegar perto da costa venezuelana anteontem.

A previsão agora de chegada do grupo anfíbio é domingo, adiando em alguns dias o que poderia ser a execução de uma ação de Trump contra Maduro no âmbito de uma diretiva secreta que autoriza a utilização das Forças Armadas na luta contra o narcotráfico — o presidente venezuelano é acusado por Washington de liderar um narcoestado. Para muitas fontes venezuelanas, esse seria “o instrumento que Trump usará para tentar tirar Maduro do poder”.

Marinheiros e fuzileiros partem a bordo do navio USS Iwo Jima para operação de combate a cartéis na América Latina — Foto: Marinha dos EUA
Marinheiros e fuzileiros partem a bordo do navio USS Iwo Jima para operação de combate a cartéis na América Latina — Foto: Marinha dos EUA
Marinheiros e fuzileiros partem a bordo do navio USS Iwo Jima para operação de combate a cartéis na América Latina — Foto: Marinha dos EUA

Um relatório elaborado por um dos analistas políticos mais importantes do país, ao qual O GLOBO teve acesso, afirma que o cenário de uma invasão militar é de baixa probabilidade, mas não pode ser descartado. O mais provável, diz o documento, é a imposição de restrições navais e financeiras que compliquem as exportações de petróleo e provoquem uma reação de Caracas. Uma delas poderia ser banir do país companhias petroleiras americanas como a Chevron, que acaba de renovar uma licença com Caracas. Se isso acontecer, haveria mais desvio de petróleo para a China, o que aumentaria a tensão com os EUA.

Mas também há quem pondere que, com outros elementos em jogo, como o petróleo venezuelano e a situação dos imigrantes, podem surgir divergências dentro do governo americano que impeçam uma ação mais contundente. Em setembro, por exemplo, está prevista uma deportação maciça de venezuelanos que vivem ilegalmente nos EUA, com aval de Maduro.

Rotina sem sobressaltos

A tensão está por todos os lados, embora nas ruas de Caracas, comentaram fontes que vivem na cidade, a rotina continue sem grandes sobressaltos. Vizinhos de quartéis militares grandes, como o Forte Tiuna, considerado o Pentágono venezuelano, na capital, viajaram para regiões mais distantes do país, por medo a um ataque, invasão ou atentado contra representantes da ditadura venezuelana. Mas não se observam pessoas estocando comida nos supermercados ou saindo às pressas do país. Para dar a impressão de relativa normalidade, esta semana Maduro percorreu regiões da capital e até andou de moto.

— Estamos diante do desenvolvimento de uma narrativa para justificar uma agressão — disse o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, que tem aparecido ao lado de Maduro e vários atos públicos.— Se entrarem no país, saberemos o que fazer — assegurou Diosdado Cabello, número 2 da ditadura venezuelana, em seu programa de TV desta semana.


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