O Senado dos Estados Unidos estuda aprovar uma medida inédita: oferecer uma recompensa de US$ 100 milhões pela captura do ditador venezuelano Nicolás Maduro. A proposta, apresentada pelo senador republicano Rick Scott, da Flórida, duplica o valor já colocado em jogo pelo Departamento de Justiça, que nas últimas semanas havia elevado a cifra de US$ 50 milhões — mesma quantia oferecida pelo terrorista Osama Bin Laden em seu auge.
A ofensiva ocorre no momento em que o governo de Donald Trump intensifica o cerco à Venezuela. Uma força-tarefa americana de cerca de 4 mil militares, oito navios, caças e um submarino nuclear opera a partir de Porto Rico, controlando rotas do Caribe sob o argumento de combater o narcotráfico. No último fim de semana, um drone MQ-9 Reaper lançou um míssil contra uma lancha que saíra da costa venezuelana, matando 11 pessoas classificadas como “criminosos” pelas autoridades dos EUA.
Oficialmente, a missão mira cartéis de drogas que, segundo Trump, “envenenam os cidadãos americanos”. Mas analistas veem a movimentação como parte de uma estratégia de pressão direta sobre Caracas, já que a frota deslocada é considerada grande demais para perseguir narcotraficantes, mas pequena demais para uma invasão militar.
Nesse contexto, ganha força a hipótese de operações especiais de “extração” — termo usado em Washington para designar sequestros de alvos estratégicos. E o principal alvo é Maduro, que enfrenta acusações de narcotráfico em tribunais de Nova York.
Cleptocracia isolada
A Venezuela, enfraquecida militarmente, não tem como enfrentar a força americana. Seus caças mais modernos datam da década de 1980. Recentemente, dois F-16 venezuelanos tentaram se aproximar de um destróier dos EUA, mas recuaram após advertência. Enquanto isso, a cleptocracia sustentada por petrodólares continua a financiar regimes aliados na região, como Cuba e Nicarágua, ambos sob impacto direto do cerco no Atlântico.
O jogo político de Trump
Apesar da escalada, o governo Trump mantém negociações discretas com o próprio regime de Maduro. Os temas em pauta vão desde o controle do fluxo migratório rumo à fronteira americana até garantias para o fornecimento de petróleo pesado venezuelano às refinarias do sul dos EUA. Essa ambiguidade estratégica tem também forte componente eleitoral. Em 2026, os republicanos disputam cadeiras cruciais no Congresso, e a narrativa de enfrentamento a Maduro pode ajudar a conquistar o voto latino em estados-chave, sobretudo na Flórida.
Risco de conflito regional
Com o aumento da recompensa para US$ 100 milhões, abre-se espaço para a atuação de mercenários e dissidências militares venezuelanas dispostas a capturar Maduro. Mas especialistas alertam: o Caribe pode transformar-se em uma nova zona de guerra, com consequências imprevisíveis não apenas para Caracas, mas também para vizinhos como o Brasil.