O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, denunciou os preparativos dos Estados Unidos para o que chamou de "agressão de caráter militar" contra Caracas. "Há uma agressão em andamento, de caráter militar, e a Venezuela está autorizada pelas leis internacionais a enfrentá-la", declarou o titular do Palácio de Miraflores. Para Maduro, não existe apenas uma tensão entre EUA e Venezuela.
"É uma agressão total. É uma agressão judicial, quando nos criminalizam; é uma agressão política, com declarações ameaçadoras diárias; é uma agressão diplomática; e é uma agressão no caminho da natureza militar", advertiu. Horas após as acusações de Maduro, Donald Trump anunciou um novo ataque contra narcotraficantes no Mar do Sul do Caribe — o segundo bombardeio em 13 dias a uma embarcação venezuelana. Três criminosos teriam sido mortos na operação.
"Nesta manhã, sob minhas ordens, as forças militares dos EUA conduziram um segundo ataque cinético contra cartéis extraordinariamente violentos do tráfico de drogas e contra narcoterroristas. O ataque ocorreu enquanto esses narcoterroristas da Venezuela estavam em águas internacionais transportando narcóticos ilegais, a caminho dos EUA. Esses cartéis do tráfico representam uma ameaça à segurança nacional, à política externa e aos interesses vitais dos Estados Unidos. O ataque resultou em três terroristas mortos em ação", declarou. O presidente americano também fez uma ameaça direta aos traficantes. "Se você está transportando drogas que possam matar americanos, nós o caçaremos", avisou.
"É uma operação militar para amedrontar e para buscar uma mudança de regime, desestabilizar a Venezuela, parti-la em pedaços, como fizeram com a Líbia e com a Síria, e apoderar-se e roubar nosso petróleo, nosso gás, nosso ferro e nosso ouro, e isso não aconteceu, nem vai acontecer", prometeu Maduro, na entrevista desta segunda-feira (15/9).
General de brigada do Exército da Venezuela e analista militar, Antonio Rivero González explicou ao Correio que "a ação militar dos Estados Unidos deverá incluir, a qualquer momento, posições de líderes do cartel encabeçado por Maduro, Diosdado Cabello (número dois do chavismo) e Vladimir Padrino López (ministro da Defesa)". "Esperamos que, a qualquer momento, os EUA possam atuar dessa maneira. Não somente de modo unilateral, mas com a participação de vários países", comentou. "Ao colocar a denominação de narcoterrorista ao regime de Maduro, Trump legitima uma ação para derrubá-lo do poder e para substituí-lo por Edmundo González e por María Corina Machado", afirmou.
Rivero acredita que uma operação militar americana na Venezuela precisa viabilizar uma força de segurança capaz de restabelecer a estabilidade do país, depois da queda de Maduro. "Qualquer ação de desmantelamento do Cartel de los Soles precisa ser acompanhada de uma força de segurança que garanta a estabilidade e a recuperação das instituições, assim como a paz na região", acrescentou.
Retórica
Jose Vicente Carrasquero Aumaitre, professor de ciência política da Universidad Simón Bolívar (Caracas), não vê mudança no nível de tensão no Mar do Sul do Caribe. "Os Estados Unidos mantêm presença na região para evitar que o narcotráfico siga utilizando essa extensa área para suas operações. É preciso ter em mente que há muito tempo a Venezuela não exerce controle sobre esse território marítimo. Prova disso são as duas embarcações destruídas pela força militar americana", disse ao Correio. Segundo ele, Maduro preserva a retórica de uma guerra permanente contra os EUA. "Com certeza, os Estados Unidos realizam negociações, nas quais exigem que Maduro abandone o poder. A Casa Branca não o reconhece como presidente e, ao mesmo tempo, imputa-lhe os crimes de narcotráfico e terrorismo."
Em 2 de setembro, as forças americanas abateram outra lancha supostamente usada por "narcoterroristas", deixando 11 mortos, segundo Trump. As relações diplomáticas entre Washington e Caracas foram rompidas há seis anos. Mais recentemente, os dois governos ensaiaram uma reaproximação, para tratar de temas como a troca de prisioneiros e a deportação de migrantes.