27/02/2024 às 06h52min - Atualizada em 27/02/2024 às 06h52min

Garimpeiros expulsos da Terra Yanomami em Roraima invadem Parque Nacional no Amapá

Desde janeiro de 2023, as operações do governo federal expulsaram ao menos 20 mil garimpeiros das terras yanomami.

Mais de 20 mil garimpeiros expulsos da Terra Indígena Yanomami em Roraima estão atuando em um parque nacional na divisa do Amapá com o Pará. O Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque foi criado por decreto presidencial em 2002. É o maior parque de floresta tropical do mundo e, nos últimos anos, enfrenta o avanço dos garimpeiros ilegais.
 
Um monitoramento de satélites aponta que desmatamento dentro do parque cresceu de forma expressiva em apenas um ano. Saiu de 30 hectares para 122 hectares.
 
No entorno do parque existe o Garimpo do Lourenço, com mais de um século de atividade. Em 2021, a Agência Nacional de Mineração permitiu que o Garimpo do Lourenço funcionasse por dois anos. Antes do fim do prazo, em setembro de 2023, a cooperativa de garimpeiros solicitou uma nova autorização para continuar explorando na área
 
Uma animação do Instituto Iepé, a partir de imagens de satélite, mostra como os garimpos ilegais, nos últimos quatro anos, avançaram para dentro da unidade de conservação e não pararam mais, e colocaram em risco três dos maiores rios do Amapá: o Araguari, o Oiapoque e o Jari.
 
Polícia Federal afirma que garimpeiros da Terra Indígena Yanomami, localizada entre os estados do Amazonas e Roraima, estão migrando para a Venezuela, a Colômbia, o Peru, a Guiana Francesa e para o Parque do Tumucumaque. Desde janeiro de 2023, as operações do governo federal expulsaram ao menos 20 mil garimpeiros das terras yanomami.
 
"O Amapá e outras regiões históricas de garimpo da Amazônia, como a Bacia do Tapajós, a Terra Indígena Munduruku, a Terra Indígena Kayapó, acabam sendo lugares atrativos para os garimpeiros que estão saindo das Terra Indígena Yanomami", diz Decio Yokota, coordenador do Instituto Iepé.
 
A organização não governamental Greenpeace Brasil afirma que é necessário aumentar a fiscalização para combater não somente os problemas ambientais, mas também os sociais que o garimpo provoca na região. "Não dá para a gente conviver mais com esse modelo de exploração que gera pobreza, desigualdade, gera concentração de renda", diz Jorge Dantas, porta-voz do Greenpeace Brasil.
 
ICMBio declarou que tem intensificado as ações contra o garimpo ilegal no interior do parque e que, em 2023, em duas operações na unidade, aplicou R$ 960 mil em multas, apreendeu mercúrio e ouro e destruiu equipamentos dos garimpeiros. A Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros do Lourenço declarou que respeita as regras estabelecidas pela Agência Nacional de Mineração e que seus cooperados não atuam no parque.

Outra região ameaçada fica na zona rural de Calçoene, a 374 km da capital Macapá – onde foi observado, por imagens de satélite, um aumento de 174% da área afetada pela atividade garimpeira ilegal, entre os anos de 2020 e 2023.

A exploração tem devastado tanto novas áreas como o entorno de áreas antigas de garimpos. A região vem sendo explorada há mais de 130 anos, constituindo uma das mais antigas em atividade do Brasil.

Os impactos relacionados ao aumento do garimpo ilegal na região do Lourenço são severos. Um deles, é sobre a saúde da população ribeirinha. A exposição à mercúrio pode causar tremores, insônia, perda de memória, convulsões, surtos psicóticos e morte. Para obter 1 quilo de ouro, são utilizados 2,6 quilos de mercúrio.

O coordenador do Programa de Gestão da Informação do Iepé, Instituto de Pesquisa e Formação Indígena, Décio Yocota, explica que o uso do mercúrio na atividade garimpeira interfere diretamente na segurança alimentar na Amazônia, pois o peixe é uma das principais fontes de proteínas da região.

“Infelizmente, através do consumo desse pescado, não só pelas comunidades do entorno, mas também das cidades onde esse peixe vai parar, acaba contaminando a população em geral. Além disso, no entorno do parque existem as terras indígenas do Oiapoque, onde habitam mais de seis mil indígenas, que também têm sofrido os impactos diretos dessa exploração”, afirma.

Yocota destaca que o risco é ainda maior para as gestantes, por causa dos danos neurológicos que pode causas aos bebês.

“Os grupos de risco são as crianças e as mulheres grávidas. Nos dois casos onde o feto, ou as crianças estão desenvolvendo o seu sistema nervoso e, infelizmente, o mercúrio tem esse efeito sobre o sistema nervoso central que pode levar, em casos mais graves, até a morte. Em casos mais leves, você pode começar a ter sintomas relacionados ao sistema nervoso, como sistemas motores, de equilíbrio, de raciocínio, e que também afetam a população em geral”, enumera.
 
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