Trump diz que Venezuela aceitou receber migrantes deportados, incluindo criminosos do Tren de Arágua

Declaração foi feita um dia após Maduro defender um ‘novo começo’ nas relações bilaterais com Washington e concordar com a libertação de seis americanos presos no país

03/02/2025 10h19 - Atualizado há 4 horas
Trump diz que Venezuela aceitou receber migrantes deportados, incluindo criminosos do Tren de Arágua
Foto; AFP

O presidente Donald Trump anunciou neste sábado que a Venezuela aceitou receber os imigrantes ilegais deportados pelos Estados Unidos, incluindo membros do grupo criminoso Tren de Aragua. A declaração foi feita um dia após o ditador venezuelano, Nicolás Madurodefender um “novo começo” nas relações bilaterais com Washington — fala que, por sua vez, ocorreu depois da visita a Caracas do enviado especial dos EUA, Richard Grenell, para uma conversa centrada na deportação de venezuelanos e libertação de prisioneiros americanos.

Logo depois do encontro, seis deles foram libertados pelo regime chavista — antes da soltura, a ONG Foro Penal, dedicada à defesa de presos políticos, contabilizava oito americanos presos no país, entre eles um militar e dois cidadãos de outras nacionalidades com residência nos Estados Unidos, acusados de conspirar contra Maduro e planejar atos de violência. Em sua rede social, Trump celebrou o acordo e escreveu que a administração venezuelana “concordou em proporcionar o transporte de retorno de seis reféns da Venezuela”.

A proibição contra os voos de deportação de migrantes venezuelanos estava em vigor há quase um ano. Se Maduro cumprir o acordo, Trump poderá reivindicar uma vitória em sua campanha para repatriar migrantes indocumentados aos seus países de origem. A medida abriria caminho para que sua administração deportasse centenas de milhares de pessoas de volta a um país que tem sido uma das principais fontes de migração para os Estados Unidos nos últimos anos, devido ao seu regime autocrático e à grave crise econômica.

Ainda assim, um acordo pode decepcionar aqueles que defendem uma postura mais rígida contra Maduro, especialmente desde que surgiram fortes evidências de que ele fraudou as eleições presidenciais de julho de 2024. No mês passado, o Foro Penal, com sede em Caracas, contabilizou 1.408 presos políticos no país — e o próprio líder republicano se referiu ao líder da oposição, Edmundo González, como o verdadeiro presidente republicano. No ano passado, os EUA anunciaram mais sanções contra a Venezuela após o pleito.

O governo Trump, no entanto, tem explorado várias alternativas para a deportação de venezuelanos, incluindo o envio para países terceiros que estejam dispostos a recebê-los. A administração do republicano ainda planeja negociar com o governo de El Salvador para que este aceite e prenda alguns deportados acusados de pertencer ao grupo Tren de Aragua, originado na Venezuela e que atua em ao menos oito países sul-americanos. No mês passado, Trump classificou o grupo como uma organização terrorista internacional.

Reunião ‘positiva’

O encontro entre Maduro e Grenell aconteceu dias após Trump anunciar a suspensão do status de proteção temporária (TPS, em inglês) concedido pelo governo de Joe Biden (2021-2025) para cerca de 600 mil venezuelanos solicitantes de asilo, que os autorizava a permanecer no país por questões humanitárias. A medida se une a uma série de outras que fazem parte do plano de promover “a maior deportação em massa da História” dos EUA. Em 2024, os venezuelanos foram a terceira nacionalidade mais apreendida na fronteira do país com o México.

Após a reunião, o governo chavista disse ter proposto uma “agenda zero” entre os países. O encontro no Palácio de Miraflores, em Caracas, também contou com a presença da vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, e do chefe do Parlamento, Jorge Rodríguez. Grenell chegou de Washington em um avião da Força Aérea americana. Segundo a imprensa estatal venezuelana, Maduro aceitou conversar com o enviado de Trump de forma “respeitosa e soberana”, afirmando que os acordos são fruto de consenso e não de imposição.

— Posso dizer que a reunião foi positiva. (...) Há temas em que chegamos a alguns primeiros acordos e, na medida em que foram cumpridos, novas questões serão abertas, espero, para novos acordos — disse Maduro em discurso na abertura do ano judicial. — Dissemos ao presidente Donald Trump: demos um primeiro passo. Esperamos que possa ser sustentado, queremos sustentá-lo.

Rompimento de relações

Caracas rompeu relações com Washington em 2019, no primeiro mandato de Trump, quando a Casa Branca reconheceu o líder da oposição Juan Guaidó como “presidente interino” depois de a oposição ter boicotado as eleições presidenciais venezuelanas um ano antes por considerar que não havia condições para eleições transparentes. No ano passado, o Departamento de Estados dos EUA reconheceu a vitória de González na eleição presidencial. González, que vive no exílio em Madri, compareceu à posse de Trump.

Na sexta-feira, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, foi questionada se a visita de Grenell à Venezuela significava o reconhecimento da vitória de Maduro, que tomou posse para seu terceiro mandato consecutivo em 10 de janeiro, previsto para durar até 2031. Leavitt negou e insistiu que o encontro tinha como objetivo convencer a Venezuela a aceitar os voos de deportação de migrantes indocumentados, além de libertar os cidadãos americanos.

O governo do democrata Joe Biden também não reconhecia Maduro, mas iniciou negociações diretas entre Caracas e Washington. Os contatos levaram, por exemplo, à libertação nos Estados Unidos de Alex Saab — empresário colombiano acusado de ser um “laranja” de Maduro e agora um de seus ministros — em troca de dez prisioneiros americanos e cerca de 20 venezuelanos no final de 2023. No passado, o atual secretário de Estado americano, Marco Rubio criticou Biden por negociar com Maduro. (Com Bloomberg e AFP)

 


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