A líder opositora venezuelana María Corina Machado, ganhadora do Nobel da Paz, ofereceu nesta segunda-feira (13) garantias para que Nicolás Maduro deixe o poder, mas previu a queda do presidente venezuelano com ou sem negociação, em meio à pressão militar dos Estados Unidos.
María Corina conversou com a agência de notícias AFP três dias após receber o Nobel, que dedicou ao povo venezuelano e ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O prêmio foi anunciado em meio à crise causada pelo envio de navios de guerra americanos ao Caribe, que o presidente venezuelano denuncia como assédio. Já Washington o apresenta como uma operação contra o narcotráfico, e acusa Maduro de liderar um cartel de drogas.
María Corina apoia as manobras militares e evitou falar em invasão. "A invasão que existe aqui é a dos cubanos, russos, iranianos, do Hezbollah, Hamas, dos cartéis de drogas, da guerrilha das Farc. Essa é a invasão que ocorre na Venezuela", afirmou a opositora, em chamada de vídeo.
"O que estamos pedindo é que essas estruturas que saquearam o país e que deixam esse rastro de morte e dor sejam desarticuladas, e Maduro tem neste momento a possibilidade de avançar em uma transição pacífica. Com negociação, sem negociação, ele vai deixar o poder", afirmou María Corina.
A opositora ressalta que Maduro fraudou as eleições de 28 de julho de 2024, e que Edmundo González Urrutia foi o verdadeiro vencedor. Ela descreve Maduro como encurralado, embora o governante se mostre firme na TV.
"Dissemos que estamos dispostos a oferecer garantias, que não tornaremos públicas até nos sentarmos à mesa de negociações. Se ele insistir em aplicar mais e mais força, as consequências serão de sua responsabilidade direta, de mais ninguém", advertiu María Corina.
"Que consequências? Não vou especular sobre isso. Nós, venezuelanos, não temos armas de fogo, temos a palavra, temos a organização cidadã, temos a pressão, temos a denúncia", acrescentou.
María Corina disse que o Nobel da Paz não estava em seu radar. Ela soube da notícia ao ser acordada com um telefonema. "Foi uma das maiores surpresas que tive na vida. Confesso que hoje, três dias depois, ainda a estou processando. Acho que esse reconhecimento ao povo da Veneuela foi uma injeção de ânimo."
A primeira reação da Casa Branca foi crítica. María Corina ressaltou que, pouco tempo depois, dedicou o prêmio ao presidente americano: "Existe um consenso geral entre os venezuelanos em reconhecer o presidente Trump, o que consideramos justo e necessário."
A mobilização de tropas no Caribe "é uma decisão que um país tomou com base em suas estratégias de defesa de segurança nacional". "Quem declarou guerra aos venezuelanos foi Nicolás Maduro. É quem aplica terrorismo de Estado internamente e narcoterrorismo externamente", afirmou a ganhadora do Nobel.
María Corina disse que mantém uma comunicação "fluida" com Washington e com governos da América Latina e Europa. Também afirmou que mantém "cada vez mais" contato com militares, que juraram em público lealdade a Maduro.
Sobre a possibilidade de uma revolta, a opositora respondeu: "Civis, militares, todos temos um papel a desempenhar. De qualquer forma, qualquer ação que respeite as eleições presidenciais de 28 de julho seria a restauração da Constituição."
María Corina passou a viver na clandestinidade há mais de um ano, mas afirma que não faz as contas. "Se eu tivesse que fazer alguma coisa agora, não seria somar dias, e sim subtrair os que faltam, porque não tenho dúvida de que estamos em uma contagem regressiva."