Tudo indica que sim, pois esta é a visão do Comitê Democrata de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados norte-americana, que acusou Donald Trump e seu Secretário de Defesa, Marco Rubio, de pressionarem por uma mudança forçada e radicar de regime na Venezuela. Como noticiou os jornal The New York Times , “o povo americano não quer outra guerra, e o Congresso não pode permitir que nenhum presidente inicie uma, ilegal ou unilateralmente”.
A declaração vem depois que o maior diário do país de Tio Sam — que tem acesso a conteúdo privilegiado, o que é posteriormente sempre confirmado — noticiou a ordem dada pelo presidente republicano para que fossem interrompidos todos os contatos diplomáticos com a Venezuela e, em seguida, publicou outro artigo sobre os planos militares em andamento. Como já de amplo conhecimento público, os Estados Unidos têm oito navios de guerra posicionados no Caribe , aeronaves de vigilância P-8, drones MQ-9 Reaper, um submarino de ataque e caças F-35 estacionados em Porto Rico, e mais de 6.500 efetivos.
Dias atras, de um local desconhecido e protegido, a líder opositora a Maduro, María Corina Machado, por ocasião de seu 58º aniversário, vestindo rosa e com um crucifixo visível no peito, afirmou que estamos na "fase de resolução" do doloroso conflito venezuelano e que a chave está no povo. "Tudo ficará bem ", disse ela. Washington, aliás, evita responder a um suposto ataque à sua embaixada em Caracas, denunciado pelo próprio regime de Maduro.
Enquanto isso, na capital da pátria de Simón Bolívar, o Ministro do Interior, Justiça e Paz e apresentador do programa de televisão pública "Con el mazo tumbada" (Com o Martelo Batendo), Diosdado Cabello, no exercício de suas funções, com a polícia sob seu comando, estabeleceu-se como guardião e protetor da Embaixada dos Estados Unidos em Caracas.
O fez depois que se acreditou serem as instalações diplomáticas alvo de um plano de "grupos extremistas" que consistiria na colocação (e ativação, presume-se) de cargas "explosivas letais" contra o edifício. A informação teria sido transmitida ao governo dos Estados Unidos por três canais, e inclusive a uma delegação europeia não identificada, segundo Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional, declarou anteriormente.
Nicolás Maduro também abordou a questão, que considerou uma "provocação" destinada a fomentar uma escalada de confrontos com os Estados Unidos. Segundo o ditador chavista, são conhecidos os nomes e sobrenomes (de quem está envolvido no esquema "extremista"), o horário da reunião, o que e onde discutiram, e até mesmo a identificação, que está sendo mantida em sigilo, da pessoa que solicitou e endossou a operação. Se se pensar mal, e talvez com razão, isso pode ser o prenúncio de uma onda de repressão ainda maior.
No início de 2024, Maduro, durante a apresentação de seu relatório anual, anunciou, em meio a um longo e tedioso discurso, que havia descoberto quatro conspirações em 2023 (no final, foram cinco), informações que guardara zelosamente para manter o controle de cada detalhe. A partir dessas "conspirações", iniciou-se uma fase da "fúria bolivariana", como é conhecida, em plena campanha eleitoral presidencial, que ainda não se acalmou.
Em 2023, com o escândalo do roubo flagrante da Petróleos de Venezuela (a queda de Tareck el Aissami), o impacto inesperado das primárias da oposição em outubro e o desdém público em torno do referendo no território de Essequibo, o regime percebeu interiormente que sua única opção era a repressão, os recursos do país foram desperdiçados e o fervor popular que outrora possuía evaporou.
Pode-se pensar também que, nestes tempos difíceis, Maduro e seus comparsas estejam buscando obter leniência do governo dos Estados Unidos, ou de uma certa diplomacia distraída que ainda concede alguma credibilidade à elite governante, assediada pelo mesmo imperialismo de sempre.
A verdade é que a palavra dos altos funcionários do regime não vale meio centavo de bolívar, moeda que desapareceu como tantas outras coisas nesse país, embora permaneça a expressão que, no caso em questão, encapsula a profunda desconfiança em qualquer conduta daqueles que exercem ilegalmente o poder na Venezuela. Diante dos olhos do povo venezuelano, de seus próprios aliados regionais e de todo o mundo que queria ser corretamente bem-informado, uma eleição presidencial foi roubada.
O regime é especialista em "conspirações". Afinal, sua inspiração inicial veio de uma executada com armas nacionais na escuridão da madrugada, como sempre.