O clima úmido, a ausência de estradas e pistas de pouso e novas estratégias de garimpeiros têm dificultado o combate da extração ilegal de ouro no Território Yanomami, em Roraima.
O UOL acompanhou um dia de operações das Forças Armadas em Boa Vista, em Roraima, e presenciou algumas das dificuldades em combater esse tipo de crime. A reportagem sobrevoou Homoxi e Auaris, regiões afetadas pelo garimpo ilegal em Território Yanomami.
O que aconteceu
As Forças Armadas atuam no combate ao garimpo ilegal de forma direta desde o começo deste ano, após a crise humanitária da população yanomami ter vindo à tona.
De acordo com as Forças Armadas, Polícia Federal e Ibama, as ações conjuntas dos órgãos conseguiram expulsar boa parte dos garimpeiros ilegais que extraiam ouro em terras indígenas. Milhares saíram da região, chegando a atravessar a fronteira de Roraima com a Venezuela. Mas alguns continuam tentando localizar novos pontos de extração ilegal de ouro.
O balanço mais atualizado das Forças Armadas aponta que foram apreendidos R$ 30,9 milhões em equipamentos e ouro nas operações.
Agora nessa fase final tem uma situação bem mais violenta e perigosa. Tem aquelas pessoas que resistem em sair do território, se escondem, e estão provocando conflitos. No início, quando anunciou que iria começar a retirada, muita gente saiu livremente. Outros saíram com as operações. (Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, em entrevista ao site Repórter Brasil).
Na base aérea do Exército, em Boa Vista, a reportagem conversou com militares que, diariamente, participam das operações contra os garimpeiros e levam estrutura para a vida dos povos indígenas da região.
Os agentes relataram três dificuldades principais:
1 - Clima: A região amazônica tem como característica ser muito úmida e quente. Em Roraima, os períodos chuvosos mais intensos são entre os meses de maio e agosto. Essa possibilidade de chuva intensa em diferentes horários do dia exigem planejamento frequente e diário das Forças Armadas já que, para chegar às regiões, não há estrada e nem rios possíveis de serem navegados. O avião é o meio de transporte.
2 - Distância: São grandes os deslocamentos para as regiões afetadas pelo garimpo. Por exemplo: o UOL sobrevoou as regiões de Homoxi e Auaris saindo de Boa Vista, distantes cerca de 1h30. Segundo a FAB, a distância da capital para uma dessas regiões é aproximadamente o deslocamento de São Paulo e Rio de Janeiro.
3 - Esconderijos: Muitos dos garimpeiros ilegais que teimam em continuar driblando as autoridades na região usam táticas para não serem pegos. Uma delas é extrair o ouro apenas na parte da noite por meio de equipamentos especiais e, ao ver um sinal da presença dos militares, usar a mata fechada como esconderijo. Segundo pilotos que participam das operações, os aviões que transportam garimpeiros e seus funcionários na região irregular chegam a desviar as rotas para o meio das nuvens, para sair do campo de visão das autoridades.
A dificuldade é logística. Distâncias grandes e você tem poucas pistas operáveis. E a ausência de rios amplamente navegáveis e estradas. (Brigadeiro José Augusto Peçanha, Chefe do Estado Maior Conjunto).
Dado que a gente conseguiu tirar a maior parte desses garimpeiros do território, você tem ali focos de resistência que agem justamente por meio de estratégias como por exemplo só trabalhar durante a noite, estratégias de enterrar maquinários, esconder-se na mata. (Beatriz Matos, diretora do Departamento de Proteção Territorial de Povos Isolados e de Recente Contato do Ministério dos Povos Indígenas).
Apesar das dificuldades, as ações continuam sem prazo definido para o término.
Nesta semana, a PF (Polícia Federal) realizou a oitava fase de uma operação contra financiadores de garimpo ilegal na Terra Yanomami. Investigações começaram com um suspeito que tentou embarcar com mais de 5 kg de ouro no aeroporto de Boa Vista em 2019, com destino a Campinas (SP).
As ações contaram com o reforço no efetivo do Exército, que deslocou 1.200 militares, 17 aeronaves, navio-patrulha fluvial e lanchas blindadas para a região. Além das ações de repressão, as autoridades distribuíram por meios aéreos 23.438 cestas básicas à população Yanomami.
O general Costa Neves, comandante das operações na área yanomami, exaltou a ampliação de atribuições do exército na região.
Agora, em junho, esses mesmos órgãos, acharam por bem que nos aportássemos um efetivo maior para compor essa força contra crime ambientais e delitos. Essa atribuição das Forças Armadas só foi colocada agora. (General Costa Neves, comandante das operações na Terra Yanomami).