10/01/2025 às 11h24min - Atualizada em 10/01/2025 às 11h24min

Nicolás Maduro toma posse para terceiro mandato na Venezuela em meio a tensão com opositores

Eleições aconteceram no dia 28 de julho de 2024, em processo marcado pela falta de transparência e perseguição a opositores. Rival Edmundo González se autoproclamou presidente eleito.

Foto: Reuters
O ditador venezuelano Nicolás Maduro tomou posse nesta sexta-feira (10) em uma sessão solene na sede da Assembleia Nacional em Caracas. A cerimônia, presidida pelo chavista Jorge Rodríguez, encerra um processo eleitoral marcado pela falta de transparência, autoritarismo e violência extrema contra qualquer pessoa que ousou se opor ao atual regime.

Maduro não apresentou provas de que venceu o pleito, ao contrário da oposição, que realizou uma contagem paralela das atas eleitorais — reivindicando a vitória para o opositor Edmundo González Urrrutia. As eleições presidenciais na Venezuela ocorreram em 28 de julho de 2024. Antes mesmo da votação, o regime de Maduro dificultava a participação da oposição, deixando claro que dificilmente o pleito seria livre.

No início de 2024, as autoridades eleitorais barraram a candidatura de María Corina Machado, principal líder da oposição a Maduro. Edmundo González surgiu como candidato surpresa, sendo um dos poucos a conseguir registrar-se para a disputa. A poucas semanas das eleições, o governo de Maduro revogou convites feitos a observadores internacionais, aumentando as suspeitas sobre o processo eleitoral. Barreiras também foram impostas contra fiscais da oposição.

Após a votação de 28 de julho, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro como vencedor, com pouco mais de 50% dos votos. Simultaneamente, a oposição afirmou que González havia vencido com ampla vantagem, com base em atas eleitorais coletadas nos locais de votação. Desde então, iniciou-se uma disputa de narrativas que resultou em mortes e na prisão de centenas de pessoas. Edmundo González foi exilado na Espanha, enquanto María Corina Machado permanece escondida na Venezuela.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) demorou para publicar o resultado das eleições de 28 de julho. Durante a madrugada do dia seguinte, as autoridades eleitorais alegaram que o órgão sofreu um ataque hacker, o que teria atrasado a transmissão dos dados. Em seguida, foi anunciado que Maduro havia sido reeleito com 51,2% dos votos, contra 44,2% de González. Mesmo com a apuração em cerca de 80%, o CNE declarou que o resultado apresentava uma tendência "irreversível".

A oposição, que desconfiava de fraude, decidiu coletar todas as atas eleitorais impressas pelas urnas eletrônicas. A operação contou com a colaboração de fiscais partidários, eleitores e militantes. Com os dados das urnas em mãos, a oposição afirmou que González havia vencido por ampla vantagem, com quase 70% dos votos. Todos os documentos foram disponibilizados em um site. Organizações internacionais analisaram os arquivos e confirmaram que os dados eram legítimos.

Enquanto isso, o CNE se recusou a apresentar as atas eleitorais das urnas. O órgão, controlado por Maduro, informou que uma revisão dos documentos seria realizada pela Suprema Corte, também composta por aliados do regime chavista. Em agosto, a Suprema Corte declarou que os resultados que deram vitória a Maduro estavam corretos e que a decisão era "inapelável". Contudo, as autoridades mantiveram as atas em sigilo e proibiram a sua divulgação.

O resultado das eleições provocou uma onda de protestos na Venezuela. Já no dia seguinte à votação, milhares de pessoas foram às ruas. Manifestações também foram registradas nas principais cidades do mundo. Na Venezuela, os protestos foram marcados por violência e repressão autoritária. Testemunhas relataram que agentes do governo atiraram contra manifestantes e lançaram bombas de efeito moral. Apenas nas primeiras 24 horas, onze pessoas morreram e 700 foram presas.

Maduro e o Ministério Público da Venezuela acusaram Edmundo González e María Corina Machado de organizarem as manifestações. O procurador-geral, Tarek William Saab, afirmou que a líder da oposição deveria responder criminalmente pelas mortes. Os protestos continuaram nos meses seguintes. Até o fim de dezembro, balanços compilados por ONGs indicaram 28 mortes e 2,4 mil presos. Desse total, o governo anunciou a libertação de mais de 1.000 detidos.

Ainda assim, a oposição denuncia regularmente prisões arbitrárias de críticos ao regime Maduro, classificando-as como sequestros. Uma das vítimas mais recentes foi o genro de González, detido por homens encapuzados na segunda-feira (6). Testemunhas também relataram que o governo está torturando pessoas que foram presas em manifestações. Em entrevista à BBC, um jovem de 20 anos afirmou ter sofrido torturas físicas e psicológicas por forças de segurança.

"Eles tiraram nossas roupas, nos agrediram e nos insultaram, gritando 'terroristas'. Era proibido levantar o rosto e olhar para os carcereiros; tínhamos que manter o rosto voltado para o chão", relatou. "Eles nos davam comida apodrecida. Às vezes, serviam pele com arroz picado, o mesmo que se dá para as galinhas ou para os cachorros. Outras vezes, eles nos davam sardinhas que já estavam vencidas."

Um relatório da missão internacional da Organização das Nações Unidas (ONU) na Venezuela concluiu que o regime de Nicolás Maduro cometeu crimes de lesa-humanidade contra a própria população, incluindo perseguições políticas e repressão violenta a manifestações.

Um mês após as eleições, a Justiça da Venezuela emitiu um mandado de prisão contra Edmundo González. O opositor foi acusado de crimes como usurpação de funções da autoridade eleitoral, falsificação de documentos oficiais, incitação a atividades ilegais, sabotagem de sistemas e associação criminosa.

González estava escondido na Embaixada da Espanha, mas acabou sendo coagido e chantageado a deixar a Venezuela. Para isso, foi obrigado a assinar um termo reconhecendo a vitória de Nicolás Maduro. Após a assinatura, González foi colocado em um avião e enviado para a Espanha, onde recebeu asilo político. Na Europa, o opositor disse acreditar que ser mais útil permanecer livre e fora do país do que preso e impossibilitado de lutar pelo resultado das eleições.

"Eu fiz isso pensando na minha família e em todas as famílias venezuelanas neste momento de tanta tensão e angústia", disse em setembro. No final de 2024, González anunciou sua intenção de retornar à Venezuela para tomar posse como presidente na cerimônia marcada para esta sexta-feira (10). A declaração irritou Maduro e o regime venezuelano, que reagiram emitindo avisos de que o opositor continuava sendo procurado pela polícia.

As autoridades venezuelanas passaram a oferecer uma recompensa de US$ 100 mil por informações que levassem à captura de González. O procurador-geral também garantiu que o opositor seria preso automaticamente se entrasse na Venezuela.

Com agências internacionais
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