09/04/2024 às 13h25min - Atualizada em 09/04/2024 às 13h25min
“Ele acha que manda em tudo e não respeita aliados”, disse Sampaio ao justificar “racha” com Denarium
O parlamentar afirmou que depois da reeleição, o governador mudou a forma de lidar com o Poder Legislativo e passou a centralizar as decisões.
Sampaio usuou a Tribuna nesta terça-feira para justificar o fim da aliança política com Antonio Denarium O deputado Soldado Sampaio (Republicanos), presidente da Assembleia Legislativa, fez duras críticas ao governador Antonio Denarium (PP) de quem não é mais aliado.
Ao relacionar na sessão desta terça-feira (9) as razões que o levaram a se afastar de Denarium, o parlamentar disse que as relações já estavam desgastadas há tempos e se deterioravam ainda mais pelas atitudes arrogantes do governador.
“Ele se acha o senhor da razão. Acha que sabe de tudo, que manda em tudo, só vale a palavra dele. Não escuta nem respeita aliados e quer resolver tudo na base da força do cargo. São gestos imperialistas, antidemocráticos, não consulta ninguém e nem aceita opinião. Sendo assim, resolvi me afastar e cuidar de gerenciar o Poder Legislativo para o qual foi eleito”, disse Sampaio.
Além do relacionamento desgastado, Sampaio relatou que foi obrigado a se posicionar mais veementemente depois que se descobriu ingerência do Poder Executivo sobre o Legislativo com a descoberta de um esquema criminoso de espionagem promovido por agentes de segurança do Estado contra parlamentares. O parlamentar disse que “o racha” não se deu por questões pessoais, mas institucionais.
Sobre a denúncia de espionagem a políticos e servidores públicos, Sampaio cobrou uma explicação de Denarium e disse que ficou acordado, como resultado de uma reunião ocorrida na semana passada, que o governador tem até esta quarta-feira (10) para dar uma resposta concreta a Casa, “e que essa resposta não será uma coletiva de meia dúzia de secretários, dizendo nada com nada e tentando enganar a sociedade. Ele tem que dar uma resposta concreta ou a Casa tomará as devidas providências”.
“Não tenho problema pessoal algum com o governador. Fui leal desde às eleições de 2018, mas percebi que após a reeleição em 2022, ele [Denarium] passou a ser exageradamente centralizador, uma postura de autodeterminação, achando que conhece tudo e entendendo que a administração pública é como uma empresa que simplesmente se administra com a vocação do dono. E não é isso. Ele foi eleito para cuidar de um Estado e não de sua casa”, disse.
DICURSO MODERADO
Quando todos esperavam aspereza no discurso dessa terça-feira – anunciado no final de semana – ao ocupar a Tribuna, o presidente do Parlamento foi bastante moderado. Não foi agressivo e nem ofendeu o governador, embora tenha sido rigoroso em condenar a postura centralizadora sem delegar nada a auxiliares e aliados. “Além do mais toma decisões que dizem respeito ao parlamentar sem fazer qualquer consulta aos parlamentares de sua base a ao presidente da Casa”, disse Sampaio.
Segundo Sampaio, o governador enxerga a relação com o Legislativo apenas pela conveniência. “Essa Casa só é provocada quanto a pauta interessava ao Governo, e cheguei a imaginar que o governador queria uma lei delegada para colocar um cadeado na Assembleia e fechar as portas para que ele administrasse tudo sozinho. Esse tipo de ingerência absolutamente explícito eu não vou aceitar nem permitir. Ele tem que respeitar as competências do Poder Legislativo. E como isso não está existindo, não me interessa relação alguma com esse Governo”, justifica o presidente.
“Entendi que era o momento de recuar e apresentar a candidatura da Catarina e esperava pelo menos um ‘muito obrigado’, mas fui chamado como se fosse um serviçal do governador para anunciar que ela seria a candidata. Muitos colegas já demonstravam desconfiança com o governador Antonio Denarium, com respeito ao cumprir o acordado e respeitando o mandato parlamentar. Me posicionei sendo o avalista de muitos acordos e depois fui cobrando um por um para que os acordos fossem executados”, disse.
Sampaio revelou que o desrespeito de Denarium em relação aos deputados é tão absurdo que até na liberação de emendas parlamentares – uma obrigação legal do governo – “ele [Denarium], do alto de sua arrogância e vaidade, cobra que o ato seja registrado e postado em vídeo nas redes sociais pelo deputado beneficiado, como se aquilo fosse um favor. Denarium tem que entender de uma vez por todas que ele não é o dono de Roraima”, disse Sampaio.
“O governador está desrespeitando essa casa quando recebe um deputado que vai lá pleitear a sua emenda, a liberação que é constitucional, é prevista, é legal e quer forçar o deputado a fazer um vídeo falando nem de sua emenda, mas do Governo. Parece que existe um narcisismo fora do comum por parte do governador”.
O deputado afirmou que nos últimos dois anos, o relacionamento com o chefe do Executivo não continuou com antes das eleições de 2022. Um exemplo disso foram as tratativas para as eleições municipais deste ano quando havia se declarado pré-candidato a prefeito de boa Vista. Conforme ele, o governador decidiu que a candidata do grupo seria a Catarina Guerra e nem sequer lhe comunicou.
“Todos sabem como foi que se deu esse processo. Eu fui tratado lá como se eu fosse um serviçal do governador. E não foi a Catarina que disse isso, foi o Governo. E aliás, foi até um marketeiro ligado ao Governo quem me deu essa comunicação”.
Apesar das queixas e das criticas contundentes, Sampaio disse ainda que manterá relações institucionais com o Governo do Estado, governador e não irá barrar projetos ou ações do Governo na Casa. “É nosso dever preservar as relações institucionais e não vou criar nenhuma restrição em relação aos projetos que o governo proponha aqui nesta Casa”.
CENCELAMENTO DO EMPRÉSTIMO
Ao final do discurso, Sampaio afirmou que irá entrar com projeto de lei, com parceria com o deputado Renato Silva (Podemos) para cancelar o empréstimo de R$805,7 milhões pedido pelo Governo de Roraima no ano passado.
“Fomos surpreendidos com um decreto suplementar ao Orçamento completamente diferente do que foi colocado na proposta. Não teria problema nenhum o governo dizer os motivos do remanejamento de recursos, mas é dever do Governo mandar um ofício explicando. O governo baixou um decreto que baixou de R$ 110 milhões para R$ 20 milhões para a Saúde. Como concordar com um movimento desses?”, questionou.